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Economia & Atualidade Postado em quarta-feira, 24 de julho de 2019 às 08:17
Números não mentem. No primeiro semestre deste ano, o desempenho da economia brasileira ficou aquém do esperado. A análise é da economista-chefe do Sistema Fecomércio-RS, Patrícia Palermo, que aponta: por mais que se consiga embarcar em um processo de recuperação mais incisivo ainda não será suficiente para elevar ao patamar de crescimento como era esperado. “Hoje, não só o Banco Central, mas praticamente todos os agentes econômicos que fazem previsões estão reavaliando as suas trajetórias de crescimento pra 2019. Infelizmente a expectativa de crescimento vai se filtrar”, diz.

Há diversas explicações para o cenário. Em função do mundo estar passando por um processo de desaceleração, é comum que os reflexos sejam percebidos na vida dos brasileiros. “Vários estudos apontam para a taxa de juros brasileira, que está muito alta. Estamos vivendo com uma política monetária restritiva e que estaria desestimulando a atividade econômica”, argumenta. Outro efeito negativo dentro da economia seria relacionado ao período de necessidade de ajuste fiscal, que, por mais que tenha déficits, é menos expansionista do que foi no passado.

Nos últimos anos, analisa Patrícia, o Brasil fez uma série de investimentos errados, o que acabou deteriorando certa capacidade produtiva. A possibilidade de gerar produção dentro da economia brasileira sem que pressione a inflação também diminuiu. Outro fator seria a cena política conturbada. “Em muitos momentos a atenção do governo acaba se desviando para questões secundárias”.

Melhora gradativa

Ao que tudo indica, a economia brasileira terá um segundo semestre melhor e mais otimista. De praxe e por ser um efeito sazonal, a segunda etapa do ano costuma ser melhor do que o primeiro na economia como um todo. Patrícia destaca que houve uma reestruturação das expectativas que se tinha para o ano de 2019. Do ponto de vista político, grande parte dos atritos já transcorreram.

Crescimento de 1%

Segundo Patrícia Palermo, a economia brasileira deve crescer, neste ano, em torno de 1%. O consumo das famílias ainda vai ser o mais relevante para definir o comportamento no ano como um todo. As taxas de desemprego devem continuar elevadas – A economista observa que o RS é um dos estados com a segunda menor taxa de desemprego do país, ainda que o desemprego esteja mais alto do que já foi no passado –, na casa dos 12% e a inflação deve reduzir neste segundo semestre. “Vamos terminar o ano provavelmente com uma inflação menos que 4%. É provável que os juros caiam em breve.”

Consumo cauteloso

O consumidor brasileiro, especialmente o gaúcho, vem sendo cauteloso há algum tempo. Conforme aponta pesquisa da Fecomércio-RS, divulgada ainda no final do mês de junho, a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) apresentou segunda queda consecutiva no mês seis em comparação com maio. O consumidor atual foi o indicador com maior queda, -4,8%. Acesso ao crédito, compra de bens duráveis e a perspectiva profissional permanecem pessimistas. “Nos últimos meses tivemos inflação mais alta vinda de alimentos, preço de combustíveis. Tudo afeta a renda e o orçamento das famílias, isso faz com que as pessoas sintam seus orçamentos mais apertados e tendo que repensar certos gastos.”

Avaliação do varejo

O varejo tem tido um desempenho melhor do que o da indústria, enfatiza a economista, porque o consumidor final continua comprando, principalmente no dia a dia. O comércio está crescendo 4% no acumulado em 12 meses. Em sua avaliação, o clima (inverno mais ameno e chuvoso) deve afetar o varejo nos próximos meses.

Próximos passos

A proposta da reforma da Previdência foi aprovada em primeiro turno pelo plenário da Câmara dos Deputados. O texto será votado em segundo turno pela Casa no dia 6 de agosto, e poderá sofrer modificações. Se aprovada, terá de passar pelo Senado. Embora inadiável, “não é uma bala de prata”, nas palavras da especialista. “Ela não vai ser votada e a nossa vida vai mudar do dia pra noite. É parte superimportante da reestruturação fiscal do Brasil, mas não é a única. Vai continuar tendo um déficit previdenciário. Os efeitos na economia brasileira vão acontecer, mas vão levar tempo. Tem reformas que são importantes pelos benefícios que trazem. Outras são mais relevantes ainda pelos malefícios que elas evitam.”

As reformas

Patrícia também enxerga a reforma da previdência como algo necessário, inadiável, e acrescenta a influência de outras duas reformas: tributária e administrativa. “A tributária vai vir na sequência, de natureza fundamental. Nosso sistema tributário estimula a ineficiência dentro da economia brasileira.” Quanto à reforma administrativa do governo, observa que do ponto de vista fiscal, é mais significativa para as contas públicas e para o equilíbrio orçamentário do país. Os tributos que a população paga acaba financiando a máquina pública. “Se ela é inchada, paga salários, em média, muito mais altos do que na iniciativa privada, acaba-se sobrecarregando o contribuinte brasileiro sem dar para ele o serviço na qualidade que poderia ser dado caso a gente tivesse um setor público mais eficiente.”

Como sobreviver

Consoante ao cenário conturbado que vive a economia, não se deve utilizar das mesmas estratégias, mas buscar uma postura mais pró-ativa. “No caso dos lojistas, tem que ter uma venda mais ativa, conhecer quem é o cliente, identificar o que é de interesse dele. Os pequenos comércios podem investir na venda em consignação. Alterar as vitrines mais facilmente aumenta as chances de conseguir novo consumidor”, destaca. Dados da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) apontam que quatro a cada cinco empresas planejam investir em 2019. Entretanto, o investimento, em si, segue em patamar reduzido, já que a intenção de investir neste ano é próxima à observada em 2018.

Queda de Convicção do empresário industrial

O Índice de Confiança do Empresário Industrial ficou em 56,9 pontos em junho deste ano e 0,4 acima do registrado no mês anterior. Este resultado interrompe a trajetória de queda que durou quatro meses, acumulando recuo de 8,2 pontos. O índice de encontra 2,4 pontos acima da média histórica.

Confiança do consumidor despenca

De abril a junho, o Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (INEC) recuou respectivamente de 48,4 para 47,0 pontos. O índice é 6,7 pontos superior ao registrado em junho de 2018, quando foi impactado pela paralisação dos caminhoneiros.

Fonte: Exclusivo