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Gestão & Liderança Postado em terça-feira, 12 de setembro de 2017 às 21:07
Entre escalar montanhas e vivenciar uma jornada empreendedora existe mais em comum do que você imagina. Nos dois casos chegar ao topo é o que menos importa.

Desde que estreei o programa 7CUMES, transmitido pelo Canal Off, que recebo muitos convites para falar sobre Montanhismo. Muitas vezes são pedidos de palestras com conteúdo voltado para a técnica, os equipamentos ou características específicas do esporte. Declino todos esses convites. E explico o porquê.

Minha experiência no esporte é muito pequena. Até agora, acumulei oito montanhas acima de cinco mil metros, sendo quatro dentro do projeto 7CUMES. Os cursos de escalada que fiz datam de 1993, quando servi o Exército. De resto, trilhas, andanças e longas caminhadas por aqui e ali. Tudo isso me credencia a fazer o que faço, mas não me credencia a falar tecnicamente sobre o assunto. Não me sinto confortável. E sabe por quê? Porque nesse esporte, se você não informa o certo, o errado acontece, e esse errado pode levar a um acidente fatal.

Guias de montanha são credenciados para tais palestras, e quanto maior a experiência do guia, melhor. Por isso, quando recebo convites para falar desse tema sob essa perspectiva, declino gentilmente, mas digo que posso contar o que o esporte fez por mim e como seus aprendizados podem transformar a vida das pessoas ou auxiliar empresas e projetos.

Individual x Coletivo

Esse é um erro comum quando o esporte é visto de fora. Com exceção dos exploradores, que se jogam nas montanhas sozinhos, completamente autônomos, o Montanhismo é um esporte coletivo. Na minha primeira expedição em alta montanha, ao Monte Aconcágua, ponto culminante da América do Sul com 6.962 metros de altitude, isso ficou claro. No Aconcágua, entendi que uma expedição é um organismo vivo que se desloca com um objetivo comum. E, tenha isso em mente, esse objetivo não é chegar ao cume de uma montanha, mas voltar pra casa para contar a história. Quando o individual é deixado de lado, e com ele, a vaidade e o ego, o verdadeiro coletivo surge e tudo fica mais leve. Na alta montanha, a leveza é importante porque erros levam a um acidente. O trabalho dos guias para minimizar o risco do individualismo é intenso. O coletivo precisa sempre estar na mesma página, cumprindo as pequenas metas, os micro-objetivos e cada tarefa necessária para seguir adiante. É nesse cenário que surgiu uma frase que repito sempre: “o coletivo faz sempre melhor que o individual”.

Competição x Colaboração

O Montanhismo não é competição. E, na minha expedição à maior montanha do continente africano, isso ficou transparente. Para a jornada do Kilimanjaro e seus 5.895 metros de altitude, nossa expedição precisou de 18 integrantes. Católicos, ateus, agnósticos, muçulmanos, negros, brancos, brasileiros e tanzanianos trabalhando juntos, sem competição. Afinal, na competição você quer aniquilar seus adversários. E a competição nas empresas está cada vez mais parecida com o Coliseu romano. É você contra outro. E apenas um sai vivo. Na montanha, tudo dá errado quando há competição.

Lembro da primeira vez que li “No Ar Rarefeito”, do jornalista Jon Krakauer, sobre a história da tragédia de 1996 no Everest. A competição está lá. Essa palavra não é usada pelo autor, mas você sente a presença dela em toda a narrativa. Quando você quiser participar de uma expedição comercial, vai ter que responder um questionário fornecido pela empresa. Todas as empresas que prestam esse tipo de serviço tem um. E, em todos eles, o guia que interpreta suas respostas estará procurando traços de colaboração. Pessoas com cultura de colaboração levam fluidez ao ambiente, promovem o bem-estar e fazem com que as fricções diminuam. Nas empresas deveria ser assim. Com as pessoas que amamos, também. Ou com um amigo: faz sentido disputar o posto de mais bem-sucedido da turma?

Prioridades x Prioridade

Dois pontos importantes sobre prioridade. Primeiro que esse substantivo é muito diferente de “foco”. E eu gosto de confundir prioridade e foco. O primeiro pode ser definido por “a próxima tarefa a ser feita para que seu objetivo fique cada vez mais próximo”. E, cá entre nós, não há prioridade no plural, não deveria haver “as próximas tarefas”, e isso chega a soar óbvio quando colocamos em perspectiva. Na escalada ao Monte Elbrus, o maior da Europa com 5.642 metros, prioridade sem “s” foi a ordem do dia. Porque o Elbrus é uma montanha “rápida”, quando o tempo permite. Você não monta acampamentos, não carrega barraca e sua ascensão parece básica. Mas se você não conquistar o dia a dia na montanha, até a possibilidade de ataque ao cume, nada feito.

Por isso, nessa escalada não usamos a frase “temos muitas prioridades hoje”. A prioridade era única, unitária. E a sensação de completar uma prioridade é redentora. Desde então, todos os dias quando acordo, repito comigo a palavra prioridade, sem o “s”. Qual a minha prioridade agora? Levar as meninas na escola. E agora? Treinar. E agora? Escrever este texto. E assim sigo. Isso diminui minha ansiedade e me coloca na trilha do que realmente importa. No montanhismo, não há “prioridades”. E ele me ensinou que na vida também não.

Simples x Fácil

Esse aprendizado também vale para complicado x difícil. E eu adoro confundir essas coisas. Estive recentemente no Denali, a maior montanha da América do Norte com 6.194 metros de altitude. Está localizado no Alasca e pertence ao National Park Service, portanto ao jeito estadunidense de fazer as coisas. Lá tudo funciona. Você entra em um site para pedir a permissão de escalada e paga ali mesmo. E no mesmo ambiente tem acesso às regras, aos documentos e literatura sobre o local, tudo em um só lugar.

Chegando na cidade mais próxima à montanha, o montanhista faz o check-in na base dos Rangers (os guarda-parques de lá) e recebe uma minipalestra, junto com os outros integrantes da expedição, sobre a escalada. A palestra faz tudo parecer simples. É simples mesmo. Os acampamentos são bem demarcados; os caminhos até eles, também. Todo o material está organizado. No entanto, a escalada do Denali foi a coisa mais difícil que já fiz em toda minha vida. Foi simples? Sim. Mas difícil, muito difícil! Quanto mais internalizo a diferença entre esses substantivos, maior a minha capacidade de executar tarefas sem sofrimento ou ansiedade. Simples é bem diferente de fácil, a linha é tênue, entender isso desde cedo, faz muita diferença no dia a dia.

Agora, uma última reflexão. Todos os aprendizados acima não estão relacionados com a preparação física do esporte. Nenhuma relação com força muscular, capacidade motora ou cardiovascular. Todos eles estão relacionados com o psicológico. Esse fator é o que mais derruba montanhistas e o maior causador de acidentes. Uma decisão errada, e pronto. Por isso, especialistas da montanha dizem, e eu subscrevo, que nesse esporte 30% é preparação física e 70% preparação mental. Não é coincidência que o psicológico transforma a vida de pessoas, e os aprendizados acima podem nos ajudar a enfrentar os desafios profissionais e pessoais que temos pela frente.

Fonte: Endeavor
Gestão & Liderança Postado em segunda-feira, 04 de setembro de 2017 às 22:01
Ela não está nas paredes, nos e-mails, nem no site institucional. Mas, quando uma empresa tem uma cultura forte, ela está por toda parte.

Cultura para mim sempre foi um trabalho de gente, não de agenda. É por isso que não é uma coisa que dedico apenas algumas horas da semana, ela está comigo o tempo todo. Tudo o que fazemos é vender essa cultura para o time, para que eles entendam como ela é importante para o sucesso da In Loco. Não é um trabalho de escrever um documento e mandar para as pessoas, é um trabalho de venda. E não dá para parar.

Não temos os valores no site e na parede, porque acreditamos que as pessoas precisam ter isso dentro delas. Mas o que a gente faz pra repassar os valores?

Usamos todas as oportunidades de contato com nosso time para reforçar essa mensagem: do momento de contratação ao Happy Hour.

Assim, para tornar real tudo o que acreditamos, como agimos e o que esperamos das pessoas que vivem na nossa cultura, temos alguns rituais. Eles são meios para transmitirmos nossa mensagem. Podem aumentar ou diminuir de frequência, desaparecer por um tempo ou serem substituídos, mas o importante é garantir que você como empreendedor tenha formas de medir o termômetro do time no dia a dia, nas interações e nas conversas.

Compartilho com você algumas ideias de rituais que funcionam hoje na In Loco e podem inspirar a sua empresa a desenvolver também.

De todos eles, o mais simples é uma reunião quinzenal de updates que fazemos com todo o time junto. Ela é super aberta e transparente, falamos de absolutamente tudo o que está acontecendo na empresa. Todo mundo faz as perguntas que quiser, e eu respondo. Ao final dessas reuniões, eu sempre deixo uma mensagem para reforçar algum valor nosso. É a oportunidade que tenho de deixar um recado para todo mundo junto, não dá para deixar passar!

E a cada dois meses reservo uma tarde para me juntar a cada time da In Loco e entender com eles o que forma a cultura daquela área, quais são os desafios deles e como eu posso ajudá-los. É o momento de tirar dúvidas sobre o negócio, de um jeito mais próximo das pessoas.

Além disso, também faço um almoço a cada dois meses com a equipe inteira de uma área específica como, por exemplo, a de Customer Success. Nele, sempre começo uma rodada dizendo:

Me diga um problema que você está tendo.

Preciso dar velocidade para os times resolverem os problemas. Por isso, eu vou perguntando a um a um na mesa, anotando os problemas. Tem muita gente que naturalmente me puxa para dar feedback, mas, de qualquer forma, eu garanto que tendo esse almoço consigo ser mais rápido em atendê-los e fazer as conexões entre os times e as áreas.

Como empreendedor, consigo ver o todo e conectar as partes, por isso costumo sair de lá com uma lista de tarefas.

Eu sempre digo: não me vejam como um topo da pirâmide, mas sim como um centro de círculo

Por exemplo, se alguém me diz:

– Olha, a gente precisa crescer mais o time, preciso de ajuda para acelerar contratação.

Eu fico com a tarefa de falar com a galera de recrutamento.

Ou se alguém do time de Vendas reclama que não entendeu a última atualização do produto, eu conecto os dois para falar melhor sobre isso.

O CEO é, essencialmente, um conector

Pouco a pouco, quando você tem um segundo e terceiro almoço com a equipe, ela tem muito menos problemas do que a primeira vez porque já descobriu o caminho das pedras pra se conectar e chegar nas outras pessoas. Mas, como o ritmo de contratação é alto e a criação de uma cultura não acaba nunca, faço disso uma rotina para nós não perdermos a agilidade.

O trabalho não acaba com o fim do expedienteO Happy Hour também é uma oportunidade de falarmos sobre a cultura. Nós costumamos fazer alguns temáticos, inspirados nos nossos valores. Selecionamos um valor e antes do Happy Hour chegar, escolhemos uma pessoa da empresa que é reconhecida por ele para falar sobre isso.

Recentemente, o terceiro funcionário da In Loco contou a história dele em um desses Happy Hours.

Meses antes ele tinha inserido uma falha no sistema que fez a empresa perder quase R$ 1 milhão. Algum tempo depois, ele identificou essa falha e veio me contar, morrendo de medo de ser demitido.

Mas, ao contrário do que ele imaginava, minha resposta foi: “Parabéns pela coragem, obrigado por ter vindo falar, e agora vamos lá resolver!”. Semanas depois, ele foi promovido.

O que isso representou? O valor de ownership, de ser o dono. Ele cometeu um erro, mas assumiu e resolveu. Isso é uma coisa que só dono faz.

Quando ele contou isso para todo mundo, a sensação que ficou era:

“A cultura dessa empresa é vivida e não está no papel.”

E essas histórias contadas no Happy Hour e pelos corredores são fundamentais para materializar aquilo que está presente nos nossos valores.

As sextas também são dias especiais aqui na In Loco. A partir das 11h, nós temos o chamado Eleven-se. Uma pessoa fala sobre um desafio específico que está passando no momento e pede ajuda para resolvê-lo. Daí, todo mundo começa a contribuir, seja o cara de vendas, a galera do marketing ou de tecnologia. É aberto para quem quiser participar ou palestrar. E é uma maneira de manter viva a cultura de colaborar com áreas que não são necessariamente a sua.

Por que às 11h? Porque depois que termina, o pessoal sai para almoçar cheio de ideias pra discutir.

Além desses eventos que já são marcados na agenda, nós fazemos Meetups com pessoas de fora para palestrar, uma forma de oxigenar as ideias e criar um ambiente mais aberto para a inovação.

Em paralelo, estamos evoluindo para criar um ambiente ainda melhor de trabalho. Oferecemos, por exemplo, comida de graça para todo mundo que está no escritório. Eles pedem o que querem comer e a gente compra. E também estamos montando um projeto para ter refeitório e um bar para abrir às quintas e sextas à noite. Espaços de troca para todo o time colaborar mais entre si.

Se você está pensando nos rituais e eventos que reforçam sua cultura, fique tranquilo: o formato é o que menos importa. Se as pessoas conseguem absorver a cultura de forma rápida apenas com uma apresentação, não tem problema. O mais importante é você sentir do time o tempo todo quando é preciso reforçar essas mensagens e qual a melhor forma de você fazer isso.

A Cultura não é o que consome a maior parte do meu tempo, mas sim a maior parte dos meus pensamentos.

Não é preciso tentar implantar esses valores na cabeça das pessoas, mas relembrar a cada oportunidade que você tiver o quanto são eles a razão de a empresa ser do jeito que é. Assim, conseguimos garantir que alguns dos valores que fizeram a In Loco dar certo lá no início, quando éramos apenas oito sócios dividindo um quarto para fazer a empresa nascer, permaneçam agora que temos mais 150 pessoas para dividir esse sonho com a gente.

Fonte: Endeavor