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Gestão & Liderança Postado em terça-feira, 16 de agosto de 2022 às 10:47


Em tempos de automatização de tarefas e ferramentas tecnológicas, o pensamento criativo é uma das habilidades mais valorizadas pelos empregadores

Para fazer bem o seu trabalho, você precisa de habilidades técnicas, as chamadas hard skills, em inglês. São os conhecimentos técnicos específicos para cumprir com as suas atribuições.

Mas o mundo profissional não é mais o mesmo. Por isso, soft skills, habilidades sociais e emocionais, podem ter agora a mesma importância do conhecimento técnico, ou até maior. Estas habilidades são mais sutis e discretas. Pense nos comportamentos e nas características pessoais que fazem de alguém um bom líder ou membro de equipe.

Especialmente agora, com a normalização do trabalho remoto e as mudanças nas formas de colaboração e inovação, as empresas estão começando a perceber a importância dessas capacidades intangíveis para formar equipes diversificadas com sucesso. O resultado, segundo os especialistas, é que os empregadores estão levando cada vez mais em conta soft skills dos candidatos, além da sua experiência e especialização técnica.

Para alguns profissionais, algumas destas habilidades são inatas, características da personalidade que tornam alguém um bom comunicador ou pensador analítico por natureza. Mas, para outros, desenvolver e aprimorar soft skills pode ser mais desafiador. Ainda assim, todos os profissionais podem desenvolver e aprimorar essas características, aprendendo a demonstrá-las. E todos nós, segundo os especialistas, deveríamos estar fazendo isso.


O que são Soft Skills?

Não existe uma lista definitiva de soft skills, mas, essencialmente, são habilidades que vão além da técnica.

A destreza com um software específico, por exemplo, é um tipo de hard skill; já saber analisar diferentes pacotes de software para descobrir qual a empresa deveria usar exige pensamento crítico, que é uma soft skill. Outra área importante de soft skill é a comunicação. Comunicar-se eficientemente com os colegas, clientes e chefes exige destreza e inteligência emocional. Empatia, trabalho em equipe e solidariedade também são habilidades que fazem parte deste grupo.

A expressão soft skills é apenas um jargão, segundo Eric Frazer, autor do livro The Psychology of Top Talent ("A psicologia dos grandes talentos", em tradução livre) e professor de psicologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Para ele, "do ponto de vista da ciência comportamental, ela se refere, na verdade, a uma série de mentalidades e comportamentos. Alguns exemplos de mentalidades que representam soft skills podem ser alguém que está sempre aprendendo, ou que é altamente resiliente. E muitos comportamentos também são soft skills, como pensamento crítico, escuta ativa e solução criativa de problemas, apenas para citar alguns."

Basicamente, acrescenta Frazer, a expressão é apenas outra definição para habilidades interpessoais. "É sobre o senso de identidade das pessoas e como elas se relacionam com os demais".

Vários tipos de soft skills são altamente práticos, como a eficiência, a capacidade de priorização, a organização e a administração do tempo,  características cada vez mais importantes para os trabalhadores remotos e híbridos.

"Pessoas com alto desempenho têm disciplina para estruturar o seu dia e serem altamente eficazes em um período de tempo definido".

E soft skills não são úteis apenas no trabalho. De forma geral, são recursos valiosos. As mesmas habilidades que permitem aos profissionais trabalhar com sucesso dentro da hierarquia da empresa e subir até o topo também geram relações interpessoais bem-sucedidas, por exemplo.


Mudança notável

À medida que muitas das partes altamente técnicas do trabalho são cada vez mais automatizadas ou substituídas por ferramentas tecnológicas, as empresas vêm buscando profissionais que sejam capazes de resolver problemas, conciliar responsabilidades maiores e trabalhar bem com os demais.Trabalhador ou máquina? As 10 ocupações com maior (e menor) chance de sumir no Brasil


A escassez de mão de obra atual em alguns países também fez as empresas se concentrarem no longo prazo. Funcionários com inteligência emocional e habilidades interpessoais suficientes para chegar a posições de liderança oferecem muito mais valor.

Além disso, soft skills se tornaram ainda mais importantes no cenário pós-pandemia, com o trabalho em grande parte remoto. A comunicação pode ser muito mais sutil e complexa quando os profissionais não veem os colegas pessoalmente. E a capacidade de adaptação é outro tipo de soft skill muito necessário, como se mostrou sobretudo nos últimos dois anos. Por isso, os empregadores estão buscando ativamente candidatos que tenham essas habilidades.

Soft skills incluem comunicação, pensamento crítico, capacidade de priorização e muito mais

Uma análise de mais de 80 milhões de anúncios de emprego em 22 setores do mercado conduzida pela ONG especializada em educação America Succeeds, em 2021, concluiu que quase dois terços dos cargos listavam soft skills entre as qualificações exigidas. E, entre os anúncios de emprego, das 10 habilidades mais exigidas, sete eram soft skills, incluindo comunicação, solução de problemas e planejamento.

O mesmo relatório demonstrou que certos tipos de cargos priorizam ainda mais soft skills. Estas habilidades foram as qualificações mais desejadas para 91% dos cargos de gerência, 86% dos cargos de operações comerciais e 81% dos empregos no setor de engenharia, o que pode ser surpreendente, já que este é um campo considerado altamente técnico.

"Quando você observa o mercado de trabalho atual, claramente houve uma mudança, e não é mais suficiente ter apenas o que eu chamaria de 'conhecimento tácito' e 'habilidades tácitas'... ou seja, você ser bom apenas no que faz. Se você é um engenheiro, você é bom em programação ou projetos. Se você trabalha em finanças, você é bom em analisar dados numéricos", explica Frazer.

As empresas mudaram ao ponto de que, segundo ele, "existe uma compreensão mais profunda de que as pessoas precisam vir em primeiro lugar, antes do desempenho". Frazer acrescenta que isso não quer dizer que as habilidades técnicas não são mais necessárias, mas que as empresas estão percebendo cada vez mais que enfatizar as habilidades interpessoais que as mantêm coesas é o que "gera grandes resultados".

O relatório The Future of Work 2021: Global Hiring Outlook ("O futuro do trabalho em 2021: panorama global das contratações", em tradução livre), do site de empregos global Monster, mostrou que soft skills como colaboração, confiabilidade e flexibilidade são algumas das habilidades que os empregadores mais valorizam nos profissionais.

Ainda assim, executivos relatam que há anos têm dificuldade para encontrar candidatos com um conjunto de soft skills bem desenvolvido. Parte disso, segundo Frazer, se deve ao fato de que é difícil quantificar habilidades como imaginação e flexibilidade.

"Levantamentos e questionários realmente não capturam esses atributos com grande precisão".


Articulando sua mentalidade inovadora

Essa ênfase maior em soft skills pode desencorajar alguns profissionais, especialmente aqueles que não são bons comunicadores naturais, nem "líderes natos". Mas ele destaca que estas são habilidades que podem ser aprendidas, mesmo por pessoas que talvez precisem se dedicar um pouco mais.

"Pessoas que querem melhorar seu desempenho no emprego, ser profissionais melhores ou ter mais equilíbrio entre a vida pessoal e profissional compreendem e apreciam o valor de aprimorar constantemente essas mentalidades e comportamentos", afirma Frazer.

Temos a tendência de conhecer nossos pontos fortes, mas aperfeiçoar nossas habilidades interpessoais começa por pedir feedback para identificar nossas fraquezas e pontos cegos. Melhorar pode exigir um esforço para sair da nossa zona de conforto.

Se você quiser melhorar o seu pensamento criativo ou sua capacidade de resolução de problemas, por exemplo, tente participar de sessões de brainstorm com as pessoas criativas da sua empresa. A inteligência emocional também pode ser ampliada, desenvolvendo a consciência social e aprendendo a controlar seus próprios sentimentos e reagir aos demais com empatia.

Além de melhorar as perspectivas profissionais, existem outros benefícios: pesquisas indicam que pessoas com alta inteligência emocional têm menos propensão a sofrer estresse e ansiedade. À medida que os gerentes de contratação buscam cada vez mais pessoas com essas habilidades intangíveis, eles podem direcionar suas perguntas durante as entrevistas de emprego para tentar descobrir soft skills dos candidatos.

No novo mercado do trabalho, apenas currículos não são suficientes

"Quando você pede a alguém 'dê um exemplo de um momento em que você foi bastante resiliente na sua vida profissional' ou 'conte uma história que destaque sua mentalidade inovadora', você está pedindo que o candidato demonstre esses pensamentos".

Em relação ao entrevistado, "digamos que o entrevistador pergunte 'qual é sua visão sobre aprendizado contínuo?'", ele acrescenta. Este é o momento de mostrar ao entrevistador que você está disposto e animado para aprender, e tem as habilidades para isso.

"A melhor resposta seria dizer: 'Bem, eu fui a esta conferência no ano passado; participo deste webinário uma vez por mês; acabei de ler este livro; e assino esta publicação do setor", orienta Frazer.

Para se preparar melhor para situações como estas, os candidatos devem primeiro identificar suas principais soft skills e estar prontos para demonstrá-las, segundo ele.

Os conhecimentos técnicos e a experiência no seu currículo sempre serão importantes. Mas, no novo mercado de trabalho, não são suficientes por si só, você ainda precisa convencer os recrutadores de que tem as soft skills necessárias para atingir o sucesso profissional.

Fonte: BBC News
Gestão & Liderança Postado em segunda-feira, 08 de agosto de 2022 às 16:00


Métricas podem ser aliadas na aplicação de limites da jornada laboral a fim de prevenir o adoecimento da mente.


É sabido que a síndrome de burnout resulta de um estresse crônico no local de trabalho que não foi administrado com sucesso, como define a Organização Mundial da Saúde (OMS). Mas como medir esse dano à saúde mental? Quais atividades mais impactam nesse resultado? Questões aparentemente subjetivas encontram respostas nos dados, por meio de estudos e análises que apontam fatores e limites da jornada laboral a fim de prevenir o adoecimento da mente.

A startup Fhinck, por exemplo, que desenvolveu um software com foco em gestão do trabalho, notou que poderia extrair informações valiosas sobre excessos que comprometem a saúde dos profissionais. O recurso foi desenvolvido para rotinas de escritório e coleta de dados da interação das pessoas com o computador.

O CEO e cofundador da empresa, Paulo Castello, explica que, com base em estudos científicos sobre saúde mental no trabalho, a empresa busca traduzir os fatores de risco em números. “Na questão do burnout, a gente pega elementos dos estudos e desenvolve um algoritmo para identificar variáveis que os estudos apontam”.

Ele exemplifica: “uma das últimas etapas de uma pessoa entrando em burnout é ficar isolada, ela se comunica menos. Quando a gente faz análise de rede de pessoas que se conectam no dia a dia, o algoritmo identifica se a pessoa fica isolada dos demais.” O executivo ressalta que essa informação só acende o alerta de potencial burnout quando se repete ao longo do tempo e é associada a outras variáveis. Sozinha, ela não representa muito.

Outras questões analisadas pela inteligência artificial são: jornada semanal superior a 60 horas, atividade digital acima de 85% da jornada semanal, tempo gasto com comunicação escrita maior que 20% e reuniões representando mais de 20% da jornada. Esses valores limites também são estabelecidos com base em estudos, como mostra um artigo da Harvard Business Review.

“Os dados criam uma pontuação que não significa que a pessoa está em burnout, mas separa entre ‘isso é normal’ e ‘isso é anormal’. Quanto mais pontos vai ganhando, maior a tendência de entrar em burnout”, observa Castello. Ele explica que os pontos só começam a ser contabilizados quando há um desvio do padrão estabelecido (as porcentagens), que pode mudar ao longo do tempo conforme novos estudos são divulgados.

O CEO também destaca a importância de análises como essa para que as empresas implementem ações antecipadas de proteção à saúde mental dos funcionários. É usar a tecnologia, a inteligência artificial e uma grande base de dados para “prever o futuro”. “Antes, metodologias muito baseadas em entrevistas não conseguiam coletar dados em escala. Com a entrada dessa nova área, você usa dados em tempo real e consegue olhar o todo”.

Nessa evolução, o software da Fhinck também foi atualizado durante a pandemia. “Antes, o software ficava instalado na máquina do colaborador e, embora ele soubesse, não precisava ter interação. Durante a pandemia, transformamos o software em assistente virtual, que agora conversa com o colaborador”.

Conforme a inteligência artificial entende os padrões da jornada do trabalhador, consegue enviar mensagens de alerta, como sugerir uma pausa ou uma conversa com o gestor, caso identifique que a pessoa está há dois dias fazendo hora extra ou sem realizar o intervalo para almoço. “O software vai lendo diferenças na jornada e traz insights para a pessoa equilibrar.”


Novos tempos, mesma intensidade

De forma intensa, todas essas atividades provocam um acúmulo de estresse no cérebro, que pode levar a um esgotamento progressivo se não for gerenciado. Pesquisadores do Laboratório de Fatores Humanos da Microsoft já demonstraram que reuniões em sequência podem diminuir a capacidade de se concentrar e se engajar com o trabalho. Além disso, mostram que é essencial fazer pausas, pois elas permitem que o cérebro “reinicie”, com redução do acúmulo de estresse.

Um levantamento feito pela Fhinck, entre junho de 2020 e maio de 2022 com base em dados de mais de 8 mil trabalhadores, observou mudanças significativas. Houve um acréscimo de 6,7% no tempo médio da jornada de trabalho semanal durante a pandemia em relação ao período anterior à crise sanitária. E, desde fevereiro, a jornada ainda se mantém 3,9% maior do que a média registrada em 2019.

Nesse período mais recente, mesmo com o retorno total ou parcial aos escritórios, as reuniões online seguem em alta. Até o começo deste ano, 83,3% dos profissionais dedicavam tempo a essa atividade e agora são 71,6%. Uma das justificativas é que o modelo híbrido ainda exige certa conexão. Quando uma pessoa da equipe não pode estar presencialmente, ela participa virtualmente, fazendo com que os demais também se conectem à chamada.

A empresa também analisou o foco digital, ou seja, o tempo médio que o colaborador passa concentrado e interagindo com o computador. Essa variável aumentou 27,1% no período pandêmico e 21,2% desde fevereiro deste ano.

“Se você sai de uma reunião para outra sem pausa, essa atividade digital mostra a intensidade que a pessoa está no computador. Mesmo voltando aos escritórios, continua num nível muito mais alto (do que antes da pandemia)”, observa Paulo Castello.

Fonte: Infomoney