Gestão & Liderança
Postado em quarta-feira, 14 de maio de 2025 às 10:21
Recentemente, recebi uma proposta de uma plataforma de e-commerce B2B prometendo reduzir em 30% os custos com processamento de pedidos. O problema? Era uma mensagem padrão, sem qualquer conexão com o tamanho da minha operação, com a stack que já usamos ou com os gargalos que realmente importam no meu dia a dia. Aquela oferta podia servir para qualquer um – e, por isso, não serviu pra ninguém. Apaguei na hora. Esse episódio resume o que está em jogo no futuro do e-commerce digital: personalização real ou irrelevância.
A promessa da IA no varejo não é nova. O que muda agora é a possibilidade real de transformar essa promessa em produto. Dados de primeira parte – aqueles que vêm direto da navegação, compra, retorno e interação do cliente – tornaram-se o ativo mais valioso para empresas que querem parar de vender para a média e começar a vender para pessoas (ou empresas) de verdade.
Segundo o CB Insights, os dados transacionais de primeira parte estão no centro da nova geração de experiências personalizadas. Já o relatório da McKinsey aponta que marcas que priorizam personalização crescem 40% mais rápido do que seus concorrentes. E em tempos de margem apertada, esse é o tipo de vantagem competitiva que não dá para ignorar.
Exemplos que mostram para onde estamos indo
– Amazon: o benchmark eterno. Usa inteligência artificial para gerar homepages, e-mails, notificações e recomendações únicas para cada consumidor, com base em comportamento de navegação, histórico de compras e até condições climáticas locais.
– Magazine Luiza: por trás do app, há um sistema de recomendação que cruza o que o cliente vê, adiciona no carrinho e abandona – em tempo real – para mostrar produtos relevantes e promoções personalizadas.
– Natura: vem testando algoritmos que recomendam produtos com base em dados de tom de pele e preferências anteriores do cliente, conectando beleza com tecnologia de forma prática e humanizada.
Agora, imagine esse nível de inteligência sendo aplicado ao B2B: uma loja de suprimentos industriais que, ao identificar o padrão de recompra de um cliente, antecipa ofertas antes que o estoque acabe. Ou um e-commerce de moda atacadista que muda seus banners automaticamente conforme o mix de compras de cada lojista parceiro. Isso já está acontecendo.
O consumidor já entendeu o jogo
Dados de uma pesquisa da Criteo apontam que:
– 50% dos consumidores estão dispostos a compartilhar dados pessoais se isso gerar recomendações mais úteis.
– 43% esperam ativamente que as marcas usem essas informações com inteligência.
– 41% se sentem mais seguros ao comprar quando veem avaliações de outros consumidores com perfis parecidos.
Ou seja: o consumidor quer ser compreendido. Quer que o e-commerce não o trate como um lead genérico, mas como alguém com histórico, intenção e contexto.
E aqui entra outro ponto: enquanto só 29% dos consumidores se dizem impactados por influenciadores, 55% das marcas ainda apostam fortemente nessa estratégia – muitas vezes sem conexão real com o público. O que esses números mostram é o desalinhamento entre o que as pessoas valorizam e o que as marcas estão entregando.
Dados, IA e storytelling: a nova equação do e-commerce
O futuro do varejo digital será definido por quem conseguir equilibrar três pilares:
1. Dados de qualidade – coletados com consentimento, organizados com inteligência e usados com ética.
2. Inteligência artificial aplicada – não como buzzword, mas como ferramenta de antecipação de comportamento e geração de valor.
3. Storytelling envolvente – porque, no fim, ainda somos movidos por histórias. E uma boa narrativa ainda vende mais do que qualquer algoritmo sozinho.
Se a tecnologia consegue entender o cliente, é o storytelling que o faz confiar.
A revolução silenciosa já começou
No fim, o que o consumidor quer é simples: sentir que a marca o vê. Que não está sendo empurrado pra uma jornada forçada. Que a experiência tem cara, nome e lógica. Mais do que tecnologia, trata-se de empatia em escala.
E é aí que mora a grande virada do e-commerce: parar de pensar só em conversão e começar a pensar em conexão. Porque quem escuta melhor, e age com inteligência, vende mais. E melhor.
Fonte: Ecommerce Brasil