Notícias


Economia & Atualidade Postado em terça-feira, 23 de janeiro de 2018 às 12:31
A indústria 4.0 está aí: tecnologias como Big Data e a Internet das Coisas já estão transformando o modo de produção, tornando-o extremamente inteligente. Nos próximos anos, vamos mudar radicalmente o jeito de enxergar o funcionamento de uma indústria e o processo que faz com que um produto chegue até ao consumidor.

Mas, e quanto ao aqui e ao agora? Em que pé estamos, no Brasil, em relação aos estímulos à Indústria 4.0? De que forma grandes empresas e o poder público têm lidado com as novas tecnologias trazidas por startups, com a revolução trazida por conceitos como internet das coisas, computação cognitiva, inteligência artificial etc? E, mais importante, como o empreendedor pode tornar esse negócio industrial digital em algo mais sustentável?

Esse assunto foi tema de uma mentoria coletiva do Programa Scale-Up Indústria, um programa de aceleração da Endeavor, patrocinado  por DHL, Klabin e ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) e com apoio institucional da Associação Brasileira de Embalagem (ABRE). Eduardo Zancul, professor da Escola Politécnica da USP; Cristiano dos Anjos e Tarcísio de Oliveira, respectivamente vice-presidente e executivo sênior da Schneider Electric, e Marcos Vinicius de Souza, Secretário de Inovação e Novos Negócios do Ministério da Indústria e do Comércio (MDIC), responderam a essas dúvidas dos empreendedores.

Para Cristiano, VP da Schneider, é preciso que quem trabalhe com a Indústria 4.0 entenda “o viés de eficiência e da sustentabilidade do negócio”. De acordo com ele, deve-se “realizar um passo a passo, já que colocar tudo digital de uma vez é quase utópico; é preciso ter um plano claro, saber quem compra seu produto, como esse consumidor compra seu produto, ou a empresa logo estará fora do mercado”.

De olho nos dados

O que significa isto? Que as ideias de antigamente já não bastam. Se antes, um bom carro era aquele que gastava pouco combustível oferecendo o máximo conforto, hoje isso já não é mais suficiente. Os automóveis de hoje precisam indicar a melhor rota em um painel multimídia, conectar-se com o celular, apitar se você não usa o cinto de segurança, e por aí vai.

“O jeito como as pessoas usam os produtos hoje indica aos empreendedores como será o design do futuro”, disse ele. Os dados gerados a cada uso — que vão do modo como você dirige, assiste à televisão, exercita-se e até dorme — devem moldar os produtos que veremos em breve nas prateleiras.

E para que esse processo de implantação seja bem-sucedido (e duradouro), um elemento-chave é a consolidação de um único conjunto de padrões técnicos de comunicação e segurança. Com ele, a troca de informações entre os diferentes tipos de sistemas e dispositivos será assegurada, eliminando-se as restrições relacionadas aos padrões proprietários vigentes. Para conhecer mais sobre estes aspectos técnicos da indústria 4.0, não perca assista a este vídeo do Sebrae.

Da barreira à oportunidade

O pensamento de Tarcísio de Oliveira, também da Schneider, vai pelo mesmo caminho. “Uma pergunta fundamental que fazemos na hora de realizar um diagnóstico para a transformação digital é: qual é a cadeia de valor em que a empresa está?” Para ele, ferramentas básicas, como o Business Canvas, são uma ótima forma de começar.

“Assim, o empreendedor saberá quem são seus fornecedores, seus clientes, seus diferenciais e, principalmente, o que é factível ou não, devido a eventuais barreiras.” Ou seja, o empreendedor conseguirá traçar, com antecedência, os passos fundamentais a serem trabalhados na digitalização da produção.

Mas é neste momento de análise, afirmou Tarcísio, que as barreiras devem ser vistas como oportunidades. Ele citou, como exemplo, a falta de conectividade no interior do país: “Hoje uma das principais empresas de automação do mundo é brasileira, baseada em Araçatuba, a Solinftec. Para conectar soluções, eles tiveram que criar redes com subestações. Ou seja, transformaram os obstáculos em oportunidades de negócio”.

Customização dos produtos em larga escala

O alto grau de personalização, em uma escala de produção, é uma das mudanças que já estão impactando a indústria nos próximos anos. “E os empreendedores devem ficar atentos a isso”, frisou o professor Eduardo Zancul

Durante um tempo, ter algumas cores disponíveis do mesmo tênis já era o suficiente; agora, queremos customizá-los do nosso jeito. Uma evolução disso é a possibilidade de o consumidor interagir com a marca e sua linha de produção por meio de plataformas digitais que personalizam os produtos, diminuem a distância entre produção e entrega e possibilitam a cocriação.

“É modinha, vai passar”

Outro ponto muito debatido foi o apoio de grandes empresas, de instituições de pesquisa e mesmo do poder público a quem está começando. Foram várias as perguntas a esse respeito, uma vez que, na visão de empreendedores presentes à mentoria, aqui no Brasil essas parcerias ainda são raras.

Para Marcos Vinicius, do MDIC, essa defasagem tem a ver com a visão geral sobre a Indústria 4.0: “Há alguns anos, quando começamos a discussão, ninguém no governo tinha ouvido falar disso. Inclusive escutei de um CEO de uma das maiores empresas brasileiras que ‘era modinha e que ia passar’”.

A partir daí, Marcos mencionou a mudança de concepção em relação ao setor, e as formas como o MDIC tem acelerado pequenas empresas. “Hoje, o melhor instrumento de fomento que temos talvez seja a EMBRAPII (Associação Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), com recursos destinados à inovação e com centros espalhados pelo país.”

O Secretário também sugeriu que empreendedores participem do Edital de Inovação para a Indústria, do SESI-SENAI, e do qual o SEBRAE passou a participar. A iniciativa é dividida entre várias categorias, com aportes de até R$ 400 mil para cada organização.

A mentalidade da sociedade também tem que avançar

O professor Eduardo Zancul, por sua vez, mencionou iniciativas da POLI-USP, entre elas o InovaLab. “Lá, temos 24 lotes disponíveis para adoção de empresas. Por exemplo, a Samsung criou um laboratório de capacitação tecnológica, onde realizamos treinamentos de startups. Temos também núcleos de pesquisa de Inteligência Artificial que também participam desses centros de capacitação”, menciona ele.

Por outro lado, ele lembra a importância de a sociedade brasileira, como um todo, mudar a concepção a respeito da pesquisa de inovação. “A primeira empresa que adotou um espaço no InovaLab foi uma empresa de inteligência artificial baseada em São Francisco, EUA”, afirma Zancul. “Percebo que a mentalidade das próprias empresas daqui ainda tem que mudar para que de fato a indústria 4.0 se estabeleça. Mas estamos trabalhando para isso”, conclui o professor.

Fonte: Endeavor
Economia & Atualidade Postado em terça-feira, 23 de janeiro de 2018 às 12:23
A participação da indústria na produção de riquezas do Brasil vem caindo, de forma consistente, na última década. Entre 2006 e 2016, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a fatia da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) encolheu de 27,7% para 21,2%. Um efeito colateral dessa estatística é a perda de espaço do Brasil no cenário mundial, como mostrou a primeira edição da pesquisa Desempenho da Indústria no Mundo, divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). No mesmo período, a participação do país na produção mundial de manufaturados caiu de 2,74% para 1,84% do total.

Essa trajetória é observada desde a década de 1990, mas se acentuou nos últimos dois anos, quando o país atravessou a mais longa recessão de sua história moderna. O período de 2014 a 2016 respondeu por 61% da perda de 0,9 pontos percentuais de participação brasileira acumulada na última década. O dado, quando visto num horizonte de 20 anos, reforça a profundidade da crise econômica.

DESEQUILÍBRIO - De 2014 a 2016, o Brasil foi o país cuja participação no valor adicionado da produção mais caiu entre seus principais parceiros comerciais: 0,55 ponto, mais que Japão (0,46) e Estados Unidos (0,3), terceiro e segundo maiores produtores mundiais de manufaturados, respectivamente. “A indústria brasileira tem um tamanho menor do que deveria ter. É menor que do que foi há duas décadas”, observou o gerente-executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, durante seminário na Câmara dos Deputados, em 7 de novembro, no qual se analisava as causas da desindustrialização brasileira.

A queda nas exportações dos últimos anos também teve reflexos no desempenho brasileiro no comércio mundial. No período entre 2005 e 2015 – dado mais recente disponível no comparativo –, os embarques de manufaturados a partir do Brasil perderam 0,24 ponto de participação, caindo de 0,82% para 0,58% do total exportado no mundo, segundo dados da Organização Mundial do Comércio (OMC). No mesmo período, o maior exportador do mundo, a China, ampliou sua fatia no mercado global, de 9,31% para 18,14%.

Dentre os países analisados, China e Coreia do Sul foram os países que registraram crescimento na participação tanto na produção quanto na exportação de bens manufaturados. O México, concorrente do Brasil em importantes setores industriais – como o automotivo e o químico – vem diminuindo o terreno nas exportações. A diferença de 0,18 ponto na fatia do comércio mundial é a menor desde o início da década de 1990.

DEMISSÕES NA INDÚSTRIA PODEM ESTAR PERTO DO FIM - O fim do ciclo de demissões na indústria está próximo de se encerrar. Segundo a Sondagem Industrial de setembro, o indicador ficou em 49 pontos, pouco abaixo dos 49,1 pontos de agosto, mantendo-se próximo da linha divisória de 50 pontos. Além disso, a habitual queda na produção, típica do mês, foi menos intensa que em anos anteriores, e o número de empregados se manteve estável. Em relação aos problemas enfrentados pela indústria no terceiro trimestre, a carga tributária permanece em primeiro lugar, mas a baixa demanda perdeu força em relação ao trimestre anterior.



Fonte: CNI