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Estratégia & Marketing Postado em terça-feira, 13 de março de 2018 às 20:34
Aparentemente, há um consenso absoluto de que a tecnologia vai substituir o emprego ou, mais precisamente, as pessoas que ocupam esses empregos. Poucos setores não serão afetados – talvez nenhum.

Os trabalhadores do conhecimento não escaparão. Recentemente, o CEO do Deutsche Bank previu que metade dos seus 97 mil funcionários poderia ser substituída por robôs. Uma pesquisa revelou que “39% dos empregos no setor jurídico poderão ser automatizados nos próximos 10 anos. Uma pesquisa independente concluiu que, no futuro, os contadores têm 95% de probabilidade de perder seus empregos para a automação”.

E para aqueles em empresas de produção ou manufatura, o futuro pode chegar até mais cedo. Esse mesmo relatório menciona o advento dos “pedreiros robotizados”. E também prevê que os algoritmos de aprendizado de máquina substituirão as pessoas responsáveis pela “classificação óptica de peças, o controle de qualidade automatizado, a detecção de falhas, e as melhorias na produtividade e eficiência”. Resumindo, as máquinas trabalham melhor. O National Institute of Standards prevê que “o aprendizado de máquina poderá melhorar a capacidade de produção em até 20%” e reduzir o desperdício de matérias-primas em 4%.

Muitas previsões afirmam que entre 5 e 10 milhões de postos de trabalho serão perdidos até 2020. Recentemente, Elon Musk, o titã espacial e automotivo, disse que as máquinas são a “maior ameaça existencial” da humanidade. Talvez seja uma visão muito lúgubre do futuro, mas, agora, o mais importante para os líderes corporativos é evitar o erro catastrófico de ignorar como as pessoas serão afetadas. Seguem quatro maneiras de pensar sobre as pessoas que serão deixadas para atrás quando as novas tecnologias chegarem.

O Mágico de Oz é o modelo errado

No filme O Mágico de Oz, o mágico comanda o reino por meio de uma máquina complexa escondida atrás de uma cortina. Muitos executivos acham que podem fazer algo parecido: fascinados com a ideia de que a IA permitirá que eles se livrem de milhões de dólares em custos de mão de obra, talvez acreditem que a melhor empresa é aquela com o menor número de pessoas além do CEO.

No entanto, Melonee Wise, CEO e fundadora da Fetch Robotics, alerta contra essa forma de pensar: “Cada robô colocado no mundo precisa de alguém para cuidar dele, fazer sua manutenção, e assistência técnica”. Para ela, o objetivo da tecnologia é aumentar a produtividade, não reduzir a força de trabalho.

Os seres humanos são estratégicos. As máquinas são táticas

A McKinsey pesquisa os tipos de trabalho que se adaptam melhor à automação. Até agora, suas descobertas indicam que quanto mais técnico é o trabalho, melhor a tecnologia pode realizá-lo. Em outras palavras, as máquinas têm uma predisposição para aplicações táticas.

Por outro lado, o trabalho que requer um alto grau de imaginação, análise criativa e pensamento estratégico é mais difícil de automatizar. Como a McKinsey colocou em um relatório recente: “As atividades mais difíceis de se automatizar com as tecnologias disponíveis atualmente são aquelas que envolvem o gerenciamento e o desenvolvimento de pessoas (9% de potencial de automação) ou que aplicam conhecimentos especializados em tomada de decisão, planejamento, ou trabalho criativo (18 %)”. Computadores são ótimos na otimização, mas não são tão bons na definição de metas — e tampouco na aplicação do senso comum.

Adotar novas tecnologias é um processo emocional

Quando a tecnologia entra, e alguns trabalhadores desaparecem, há um medo residual entre os que ficam. É natural que eles perguntem: “Serei o próximo? Por quanto tempo ficarei empregado? ” Segundo o capitalista de risco Bruce Gibney, “o emprego pode não parecer algo ‘existencial’, mas é. Quando as pessoas não conseguem se sustentar com o trabalho — ainda menos com trabalho que achem significativo — clamam por grandes mudanças. Nem toda revolução é uma boa revolução, como a Europa descobriu várias vezes. O emprego fornece conforto material e gratificação psicológica, e quando esses benefícios desaparecem, as pessoas ficam muito aborrecidas”.

O executivo sábio percebe que os traumas das novas tecnologias têm origem em duas questões: (1) como integrar a nova tecnologia no fluxo de trabalho e (2) como lidar com os sentimentos de que a nova tecnologia é de alguma forma o “inimigo”. Sem lidar com ambas, mesmo o local de trabalho mais automatizado pode facilmente ser tomado por tendências de ansiedade, ou mesmo de raiva.

Repense o que sua força de trabalho pode fazer


A tecnologia substituirá parte do trabalho, mas não necessariamente as pessoas que faziam esse trabalho. Para o economista James Bessen, “o problema é que as pessoas estão perdendo empregos e não estamos colaborando para que elas desenvolvam as habilidades e os conhecimentos necessários para trabalhar em seus novos empregos”.

Por exemplo, um estudo na Austrália encontrou um lado positivo na automação dos caixas bancários: “Embora os caixas eletrônicos tenham assumido muitas tarefas, isso permitiu aos funcionários a oportunidade de ampliar sua atuação e vender uma variedade mais ampla de serviços financeiros. ”

Além disso, o relatório revelou que existe uma gama crescente de novas oportunidades de trabalho para analistas de big data, analistas de suporte à tomada de decisão, operadores de veículos de controle remoto, especialistas em experiência do cliente, ajudantes de saúde preventiva personalizada e acompanhantes online (gestão de riscos online como roubo de identidade, danos à reputação, bullying e assédio nas redes sociais e fraude na internet). Esses empregos talvez não existam no seu setor. Mas talvez, por outros motivos, este seja o momento perfeito para você repensar a forma e o caráter de sua força de trabalho. Esse novo pensamento pode gerar uma nova agenda de desenvolvimento de recursos humanos, enfatizando as capacidades humanas inatas que podem fornecer uma estratégia renovada de sucesso tecnológico e humano.

Como dizia Wise, a criadora de robôs, a tecnologia em si é apenas uma ferramenta que os líderes usam da forma que lhes parece mais apropriada. Podemos escolher usar a IA e outras tecnologias emergentes para substituir o trabalho humano, ou podemos optar por usá-las para ampliá-lo. “Seu computador não causa sua demissão, seu robô não causa sua demissão”, disse ela. “As empresas que possuem essas tecnologias fazem e definem as políticas sociais que mudam a força de trabalho”.

Fonte: HBRB
Estratégia & Marketing Postado em terça-feira, 13 de março de 2018 às 20:33
O avô de Bel Humberg tinha o seguinte ditado: uma pessoa pode ser catadora de feijão, e ficar caçando aquilo que não presta, que vai ser descartado, o que é ruim, ou de diamantes — aquelas que vão procurar no meio do rio, na lama, aquilo que brilha. Bel dizia ao avô que queria a segunda opção: buscar pedras brutas que podem ser lapidadas e ter um imenso valor.

Desde a infância, Bel, que levou, com suas sócias, o e-commerce de moda OQvestir do zero para um faturamento de R$ 100 milhões em seis anos, está em busca de diamantes: oportunidades, negócios, pessoas e conexões com imenso potencial de valor, desde que alguém esteja disposto a encontrá-los e lapidá-los. Nessa jornada, ela lembra de outro ensinamento do avô: “A história não fala dos covardes”.

Bel nasceu em São Paulo, em uma família tradicionalmente paulistana, mas isso não significava moleza: para qualquer gasto extra era preciso se virar: por isso, já dando bons sinais empreendedores, vendia ovo de páscoa, sanduíche natural, camisetas, dava aulas particulares…

Sempre muito intensa e esforçada, na hora de escolher a faculdade ela foi fazer logo duas: psicologia e direito. “A vida é só uma, e eu tenho tantos sonhos a realizar”, conta ela.

A força da gentileza

Em 1995, recém-formada e recém-casada, ela recebeu a proposta de montar a filial do escritório Demarest, um dos mais importantes do país, no Rio de Janeiro. “Para uma catadora de diamantes, vi ali uma linda oportunidade de tirar um projeto do papel, lapidá-lo e fazê-lo brilhar.”

Se hoje a questão das mulheres em cargos de liderança ainda é um desafio, imagine a situação mais de 20 anos atrás. Bel conta que o chefe a apresentava assim:

“Essa é a doutora Isabel, ‘o nosso homem no Rio’”.

Às vezes, clientes entravam na sala de reunião e questionavam: “Cadê o advogado?” Por isso, ela teve de aprender desde cedo a conquistar seu espaço, usando, em vez de força, gentileza.

No fim dos anos 1990, com as privatizações, o setor elétrico estava em plena transformação. E Bel se especializou no tema: rodou o país inteiro enquanto era criada uma nova regulamentação para o setor. O que a empolgava era participar da criação de algo novo. Lapidar.

Um encontro transformador

Foram mais de 15 anos trabalhando como advogada, em um ritmo acelerado. E Bel e o marido ainda tiveram três filhos em meio a essa agitação. Parecia que estava tudo pronto: ela tinha uma família, uma carreira consolidada… Quando ela chegou ao Rio, dividia uma sala com uma advogada. Quando voltou, já tinha montado um escritório com 80 profissionais. Aos poucos, ela foi perdendo o brilho nos olhos diante de tanta coisa pronta. Aparentemente, os diamantes já estavam bem visíveis.

Ela queria se reinventar, mas sem saber direito como. Até que um encontro, em uma quinta-feira qualquer de 2009, mudou a vida dela. Um Day1. Adiantada para uma reunião, ela parou o carro em frente a uma loja. O plano era fazer uma horinha. Ao entrar na loja, foi abordada por uma mulher.

– Acho que te conheço. O que você faz?

– Eu sou advogada

– Eu também! Aliás, era. Larguei tudo e agora vou vender roupa pela internet.

Bel ouviu a mulher falar com paixão do projeto, mas aí perguntou: Você já trabalhou com internet? Tem a plataforma? Já tem plano de logística? Tem time? As respostas eram “não”. Trocaram cartões. Será que ali havia um diamante?

Ao chegar em casa, comentou sobre o encontro com Paulo, seu marido, que participou da primeira onda de empresas de internet do país, no fim dos anos 1990. Uma referência no setor, fundador da empresa de investimentos A5 Capital Partners. Bel deu o cartão para o marido e pediu: “Fale com ela. Faça como se estivesse fazendo isso para mim”. Mas e se ela for uma louca?, ele perguntou. Ao que bel respondeu: “E se ela for outra catadora de diamantes?”.

Paulo falou com a mulher, gostou da ideia e se tornou o primeiro mentor e investidor-anjo de OQVestir.  Algum tempo depois, Mariana a chamou para tomar um café e entrar no projeto. O combinado era Bel ficar apenas por um mês — se não gostasse, seguiria na carreira de advogada. Só que já nos primeiros dias ela ficou completamente apaixonada.

“Vocês são loucas”

O início da jornada empreendedora, como sempre, foi uma rotina de quebrar pedras. Elas ouviram muito “vocês são loucas”. Imagine largar uma carreira consolidada para vender roupas pela internet — em um momento de crise econômica global, sem ter a experiência necessária, em um momento em que quase não havia lojas online desse tipo no Brasil.

“Exatamente quando você escuta ‘você é louca’ é que mora a oportunidade. Depois que todo mundo já entendeu, a oportunidade de ser pioneira já passou.”

Logo no começo elas perceberam indícios de que aquela era, de fato, uma boa ideia: novos clientes comprando e elogiando, marcas querendo entrar no site… Só que, elas sabiam, no e-commerce você precisa de investimento para escalar.

Um dia em 2010 um amigo comentou que um investidor americano estava interessado no modelo de negócios delas. Até aí tudo bem. A questão é que esse investidor estava no Brasil. E iria voltar para Nova York naquele dia. Bel e Mariana foram para o aeroporto de Congonhas, em São Paulo, pegaram o primeiro voo que passava pelo Galeão, no Rio, e foram atrás do investidor.  O encontraram numa lanchonete do Bob’s. Fizeram a apresentação, contaram como queriam escalar, como iriam atingir o break even…

Até que no fim do papo ele perguntou qual a referência de negócios elas tinham, e elas disseram Netshoes, que na época era basicamente a única empresa grande que vendia moda por aqui. Surpresa: ele disse que era investidor da Netshoes e deu a elas seu cartão. Só aí elas foram procurar na internet e se deram conta de que aquele era o Lee Fixel, da Tiger, um dos principais fundos de investimento do mundo… E ele estava ali conversando com elas numa lanchonete.

Três meses depois, ele se tornou o primeiro investidor do OQVestir. Investiu numa empresa que tinha 5 pessoas em uma sala de 70m2. Comprou a ideia, o planejamento, mas principalmente o brilho nos olhos das sócias.

Com o investimento, o negócio cresceu a um ritmo acelerado: 700% em 2011. Elas tinham claro o que não sabiam, por isso foram trazendo mentores para o negócio e, o mais importante, montando um time de profissionais incríveis — Bel tem certeza de que, em um negócio, o que há de mais valioso são as pessoas: o time, os parceiros, os clientes.

Calma de mãe

E colocar isso em prática a ajudou a navegar por momentos dificílimos, como a chegada de fortes concorrentes. Um deles, investido por grandes fundos, começou a agressivamente procurar os parceiros de OQVestir e se ofereceu a pagar mais pela mercadoria, e pagar à vista. O time se desesperou, com medo de ser atropelado. Mas, como uma mãe que mantém a calma em meio à tormenta e leva os filhos no caminho de uma solução, eles conseguiram superar a dificuldade.

Os próprios parceiros não aceitaram vender para o concorrente porque preferiram manter o bom posicionamento e a boa parceria que haviam construído.

Em seis anos, OQVestir se tornou líder e referência no segmento, com faturamento de R$ 100 milhões. Aquelas cinco pessoas em uma pequena sala se trasformaram em um time com 150 profissionais. Os processos estavam estruturados, a empresa estava supercapitalizada… Bel começou a sentir que a roda girava sozinha, que o diamante já estava lapidado. Era hora de a companhia ter um executivo à frente para prosseguir com a expansão. Empreendedora, Bel decidiu que era hora de buscar outros diamantes e decidiu deixar o cargo de CEO.

“O que me me move é formar time, catar diamantes, construir sonhos… ainda tenho uma caixa cheia deles!”

Desde então, ela resolveu “olhar fora da floresta”, se abrir para o novo. Hoje, ela é conselheira da EY no programa Winning Women, é mentora da Endeavor, atua em Conselhos de Administração… Busca devolver ao ambiente empreendedor tudo o que aprendeu com a sua jornada. Contribuir para que o Brasil tenha mais referências de empreendedores, e principalmente empreendedoras, como ela. Sempre caçando outros diamantes.

Fonte: Endeavor