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Gestão & Liderança Postado em quarta-feira, 12 de julho de 2017 às 20:45
Muito além do mainstream da educação executiva, líderes empresariais buscam programas de desenvolvimento alternativos que os preparem para a criação, o empreendedorismo e os relacionamentos, desde a subjetividade estética da arte até o esvaziamento da mente.

Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG), tem pouco mais de 35 mil habitantes. A cada ano, recebe um número de turistas pelo menos dez vezes maior. O motivo do fenômeno atende pelo nome de Instituto Inhotim, mistura de museu ao ar livre, jardim botânico e escola, instalado em uma zona de mata atlântica cuja área total equivale a 300 campos de futebol. Maior acervo de arte contemporânea a céu aberto do planeta, o Inhotim não atrai só fãs de Tunga, Vik Muniz, Adriana Varejão e Cildo Meireles; também recebe grupos de um dos mais inovadores programas executivos do Brasil.

Alexandre Fialho
Idealizado há cerca de três anos por Alexandre Fialho, mentor de CEOs e conselheiro de grandes empresas, o programa “Desenvolvimento Estético de Líderes” faz uma revelação: a busca do universo corporativo de quebrar paradigmas é autêntica – ou seus líderes não estariam se submetendo eles mesmos a cursos alternativos. O currículo de Fialho pode ser o mais diferenciado do leque ofertado, mas, em plena crise, todos os variados esforços de empresas para que seus gestores façam cursos de disciplinas menos técnicas, “alternativas”, chamam a atenção.

Há uma explicação? Com a palavra, Fialho: “Para navegar pelo campo da criação e do empreendedorismo, que são transgressores da normalidade, o líder precisa sair do aprisionamento da racionalidade”. O princípio é simples: aquilo que é de conhecimento de todos dificilmente gera algo novo. Para inovar, é preciso buscar conhecimentos diferentes.Arte com filosofia
O programa de Fialho não propõe apenas uma imersão na estética; ele parte de conceitos da filosofia, misturando principalmente pós-modernidade com Nietzsche. No Inhotim, os gestores dialogam com as instalações em uma experiência customizada, que leva em conta problemas e dilemas que estejam enfrentando em suas empresas. A Bienal de Arte de São Paulo, o Museu de Arte Contemporânea de Serralves (Porto, Portugal) e o Museo de Arte Contemporáneo de Salta (Argentina) foram outros ambientes para o programa – que, no caso argentino, ainda incluiu uma etapa nas vinícolas de Mendoza.

“Diferentemente das demais escolas, que têm característica conceitual, a arte contemporânea dialoga com a realidade, com os dilemas e com as questões que estão bem vivas para todos nós”, explica Fialho.

Na prática, o afloramento da sensibilidade estética confere aos interlocutores novas ferramentas para ler cenários, contextos e pessoas, aumentando a capacidade de análise de quem costuma se prender apenas a números e tendências.

Sem mencionar as empresas com que trabalha, Fialho comenta um dos resultados mais rápidos desse tipo de experiência: os líderes conseguem lidar melhor com a diversidade em suas equipes. “Muitas vezes, um CEO tem a tendência de querer julgar ou não dialogar corretamente com as diferentes subculturas da organização, e isso se deve só à falta de sensibilidade estética.”

Atenção plena e autoconhecimento
Outro programa alternativo que tem sido procurado é o que promove o autoconhecimento por meio de práticas de mindfulness. Sócrates teria dito “Conhece-te a ti mesmo” há mais de dois milênios, mas, em tempos de comunicação instantânea, acesso abundante à informação, metas a bater e jornadas de trabalho pesadíssimas, o ensinamento faz ainda mais sentido. A falta de conhecimento sobre si já é encarada em boa parte das empresas como uma das principais causas para entraves no relacionamento interpessoal.

Eduardo Farah, que faz programas de mindfulness com gestores
O consultor em gestão, relacionamento e desenvolvimento humano Eduardo Farah é conhecido no Brasil como uma espécie de embaixador do mind­fulness. A prática é definida como a habilidade de dar atenção plena a alguma coisa – seja a demanda de um colega de trabalho, seja a pauta de uma reu­nião, por exemplo –, mas tem a ver primeiramente com entender a si mesmo e ao outro, por conta da ampliação da percepção, que é trabalhada em programas e workshops.

“O mindfulness gera uma capacidade muito maior de empatia e aumenta automaticamente a competência da pessoa para dar feedbacks e ajudar os outros”, explica Farah, que é doutor em ética pela FGV- Eaesp. O mindfulness se traduz, na prática, no esvaziamento da mente, com a ajuda de meditação.

Luciana da Mata, head de relacionamento da Youse, plataforma de seguros online da Caixa, aderiu ao programa de mindfulness há cerca de um ano, tempo suficiente para começar a sentir seus benefícios. Além de ajudá-la a vencer a insônia, os minutos diários de meditação têm sido fundamentais para combater o cansaço e a irritabilidade.

Não contente em praticá-lo individualmente, Luciana levou o mind­fulness para as reuniões que lidera na Youse. “Tenho 24 pessoas no time e sempre que começamos uma reunião eu proponho a todos uma meditação rápida, mas com pelo menos um minuto, usando técnicas de respiração para que nos conectemos e estejamos plenos”, explica ela.

Agora, a ideia é estender a experiência à central de atendimento da empresa, que conta com uns 450 funcionários. “A gente vem quebrando o modelo mental de robotização das centrais, onde durante anos as pessoas foram treinadas para atuar com script.”

Outro executivo que vem experimentando os benefícios da atenção plena é Luiz Zanuto, gerente de marca da Kimberly-Clark. Ele conta que, ao fazer um curso de empreendedorismo na Stanford University, nos EUA, surpreendeu-se com um professor que dedicava os cinco primeiros minutos da aula a exercícios de respiração e esvaziamento da mente. “Não sabemos quanto estamos estressados e pilhados até fazer um reset desses”, diz.

Emoções

Paulo Aziz Nader, head coach que destaca a importância das soft skills para os líderes
Em um resort em Angra dos Reis, no litoral carioca, 30 líderes vinculados a uma vice-presidência de uma multinacional de bebidas estão reunidos para uma imersão – dois dias de atividades full time. O roteiro contempla dinâmicas que vão do desafio de “fazer algo que jamais foi feito” a ter aula com um grafiteiro renomado para, depois, levar o ensinamento à prática. No fim das contas, uma grande meta: trabalhar conceitos de criatividade e inovação.

As atividades são organizadas sob medida pela Sputnik, braço de educação corporativa da escola de criatividade Perestroika.

Qual a metodologia? “Trabalhamos com a saída da zona de conforto e com as emoções”, explica Mariana Achutti, cofundadora e gestora da Sputnik. É a metodologia de experience learning, cujos conceitos se relacionam, de certa maneira, com propostas como a de sensibilização pela estética da arte, idealizada por Alexandre Fialho, e a do mindfulness, disseminada por Eduardo Farah. Segundo Achutti, a finalidade é ajudar empresas de hoje a se tornar, na prática, verdadeiras “empresas do futuro”.

Luciana da Mata, que já levou o mindfulness para as reuniões de sua equipe na Youse
Um dos conceitos trabalhados na imersão diz respeito às relações interpessoais. “A aula de empatia é um dos nossos conteúdos mais em voga”, relata ela. É quase um exercício de teatro: o aluno se caracteriza como um idoso, com ouvidos tapados, óculos para dificultar a visão e pesos nas pernas. Outra aula, sobre criação de produto e sensibilidade, faz as pessoas conviverem com um público de drag queens para lhes criar sapatos.

Alto escalão
A capacidade de se relacionar e de se colocar no lugar do outro são apenas algumas das competências que integram o grupo das chamadas soft skills – como são conhecidos os comportamentos sociais, comunicacionais e operacionais de um indivíduo.

Por moldarem a capacidade que cada pessoa tem de lidar com as mais distintas situações e de tomar as decisões mais adequadas, as soft skills fazem toda a diferença no dia a dia do trabalho de qualquer um, mas têm importância particular para empresários e executivos de alto escalão, na avaliação de Paulo Aziz Nader, ex-executivo, fundador e head coach da Leverage Coaching.

Segundo ele, à medida que um profissional evolui na carreira, ele precisa usar menos competências técnicas e mais competências de liderança, campo no qual soft skills são primordiais. Além disso, o atual ambiente turbulento exige mais liderança; requer líderes mais criativos e empreendedores.

Seja no Inhotim, seja em um resort em Angra dos Reis, muitos executivos seniores, e high potentials que querem chegar lá, vêm buscando um tipo de educação que os tire da zona de conforto – até na crise. A notícia não poderia ser mais alvissareira.

Dias de Nietzsche no Inhotim
Filósofo, filólogo, poeta e compositor, Friedrich Wilhelm Nietzsche morreu em agosto de 1900, aos 65 anos.  Ainda assim, poucas pessoas no mundo traduzem melhor a vida contemporânea do que o pensador.  “É o filósofo que melhor dialoga com a pós-modernidade, trazendo reflexões condizentes com a existência hoje, seja ela como indivíduo, seja como mundo corporativo”, garante Alexandre Fialho. No programa “Desenvolvimento Estético de Líderes”, quatro pilares nietzschianos costumam ser trabalhados – perspectivismo, experienciação, pluralismo e transvaloração. De maneira breve, Fialho explica cada um deles:

1) Perspectivismo. “Diferentemente do passado, quando o planejamento estratégico era um guia quase hermético com premissas de agir para controlar as variáveis à minha volta, no mundo atual isso se torna ridiculamente quase um fetiche. Então, temos de ver as diversas perspectivas e não ser indivíduos lineares.”

2) Experienciação. “O mundo corporativo apresenta a todo instante questões desafiadoras que ainda não são conhecidas nem estão preconcebidas. Isso requer um processo de empreender – e empreender significa ‘o caminho que conhecemos ao caminhar’. Experienciação tem a ver com isso: grande parte do caminho aprendemos experienciando, e não colocando em perspectiva absoluta de imaginação.”

3) Pluralismo. “O empreendedor costuma ter a estrutura mental bastante plural, ampla, e o executivo é mais aquela coisa de plano, execução e processo. O desenvolvimento estético tem a intenção de fazer com que executivos naveguem com maior habilidade no mundo empreendedor. Aí entra a pluralidade, que para Nietzsche vai além do ‘vou ser isso, vou ser aquilo’. É a aceitação de que somos vários, até porque não vivemos mais em um contexto de linearidade.”

4) Transvaloração. “É uma crítica moral à ética instalada no mundo corporativo, que vem da herança moderna. Trabalho a dimensão transgressora também, pois todos os grandes empreendedores são transgressores. O empreendedor não cabe nos limites que o mundo coloca dentro da normalidade. Ele está além, criando novas realidades. Steve Jobs, com o iPhone, é um exemplo. Jorge Paulo Lehmman, também. Quando ele decidiu comprar a Brahma, muita gente disse que seria um fracasso, mas ele transgrediu a racionalidade. Existe aqui, ainda, uma conexão com a produção artística. Qual o parâmetro moral de uma obra de arte? É o artista quem coloca. E o empreendedor não é um seguidor de cultura, da normalidade: ele cria novas culturas, novos parâmetros.”


Fonte: Revista HSM
Gestão & Liderança Postado em quarta-feira, 12 de julho de 2017 às 20:39
Como criar organizações mais humanas e sustentáveis “Vivemos num mundo fundamentado em mudanças. Já passou da hora das organizações também mudarem o foco de sua estratégia”.
A frase é de Andrew Winston, especialista em como as empresas podem navegar e lucrar com os maiores desafios da humanidade.

Para ele, há evidências de que questões ambientais e sociais estão alterando o ambiente de negócios. “Da forma como as companhias são conduzidas atualmente elas não conseguem acompanhar essas mudanças no cenário”, destaca. Ele cita como exemplo um público mais exigente que demanda cada vez mais transparência dos processos das empresas e de sua rede de fornecedores.

O economista defende que as organizações precisam observar de forma mais atenta alguns valores intangíveis, tais como lealdade do consumidor, produtos inovadores e diferenciados e até o poder de atração e retenção das organizações para gerar valor às marcas.
Nesse contexto, Andrew Winston destaca que as corporações devem seguir as seguintes dicas:

1. Deixar de focar em ganhos a curto prazo.

2. Agir de forma propositiva e não reativa às questões socioambientais.

3. Traçar estratégias baseadas em análise de dados e não no feeling de executivos.

4. Encontrar novas maneiras de colaborar com a comunidade, governos e até concorrentes.

5. Mudar a forma como os atuais executivos medem e pensam nos valores da empresa

6. Repensar em como os investimentos dentro das empresas são conduzidos, observando todos os demais elementos.

Fonte: HBRB