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Tecnologia & Inovação Postado em terça-feira, 22 de março de 2022 às 09:34


Beatriz Bachert, head de estratégia na HUB 16 01, e Léo Brazão, co-founder da HUB 16 01, comentam as tendências que foram destaque no SXSW.

Um festival no presente que celebra, verdadeiramente, o futuro. Esta é uma das propostas do South by Southwest, o tão falado SXSW. A mistura de temáticas que vão desde inovações tecnológicas, educação, música, cinema e até o uso de psicodélicos, é um prato cheio para o fomento de tendências que podem (e vão) mudar o mundo.

Nomes como Amy Webb, fundadora do FutureTodayInstitute;Scott Galloway; Maëlle Gavet ativista da “Tecnologia Empática”; Michael Dell, fundador e CEO da Dell Technologies; e muitos outros compõem um board diverso de palestrantes chave do evento.

Léo Brazão, co-fundador da Hub 1601, que acompanha o evento presencialmente, comenta sobre a experiência. ‘’Acredito que, mais do que a variedade incrível de temas e palestrantes, o que torna o SXSW tão especial é a diversidade e pluralidade de pessoas, ideias e pensamentos, que convivem juntos, se transformam e se enriquecem ao longo do evento. Uma experiência singular de colaboração, aprendizado, conexão e empatia, pilares fundamentais da inovação’’.

O viés tecnológico da inovação ganhou força este ano no evento, discutindo por exemplo, os rumos da web que ainda gera dúvidas nas cabeças pensantes do evento. Alguém pode ser o “CEO” da internet? Vamos viver em dois mundos, um digital e outro físico? Será o fim da nossa privacidade? A era 3.0 não “ está chegando”, como muitos pensam, ela já estava aqui!

“Estar aqui no SXSW é algo muito importante para nós brasileiros, é nossa forma de deixar nossa marca e disseminar nossa cultura inovadora para o mundo, além de estar presente nas grandes discussões que regem o futuro da inovação global” afirma Beatriz Bachert, head de estratégia na Hub 1601, que separou ainda três tendências discutidas no festival, regadas por inúmeros diálogos informais e análises profundas, em busca de uma resposta para as questões acima e tantas outras.


Descentralização desde a web até cidades inteiras

A descentralização, conceito abstrato e explorado por muitos futurologistas, é o que guiará diversos âmbitos da nossa sociedade no futuro. O grande exemplo é a tão comentada Web 3.0. Nela, seremos “sócios” de tudo, nossas informações serão apenas nossas, e caberá a nós mesmo compartilhá-las e até vendê-las as empresas.

Já as DAOs (Organizações Autônomas Descentralizadas) estão chegando para mudar a forma com que nos organizamos empresarialmente. Um grupo de pessoas com um interesse em comum cria uma comunidade ao redor de um produto ou serviço e administrar suas tarefas – baseadas em ‘smart contracts’ e registradas no blockchain. O “salário” vem em um formato de criptomoeda através da valorização (ou desvalorização) da “empresa”.

Hoje, a utilização do blockchain ainda é pequena e limitada a arte, roupas “híbridas” e música. A grande vantagem para os artistas é que a tecnologia possibilita o que chamamos de “peer-to-peer” ou “par-a-par”, operações sem intermédio de outros. Ou seja, o criador do conteúdo não precisa passar pelo crivo ou intermédio de nenhuma produtora ou distribuidora. Além disso, é também uma forma de garantir a originalidade das peças visto que, quando no blockchain, o conteúdo não pode ser replicado. Tudo isso promove a ideia de descentralização da internet e do conteúdo gerado nela.

Por fim, veremos a descentralização em sua forma mais bruta, onde cidades inteiras funcionarão como DAOs e caberá aos seus cidadãos decidirem no que querem investir: um novo parque, uma nova escola e etc. O conceito foi criado por Marc Lore, empresário e atual proprietário da NBA, que apresentou no festival seu mais novo empreendimento – a cidade de Telosa. A ideia é criar uma cidade futurista, totalmente automatizada e sustentável, baseada nos princípios de descentralização do poder, e força da comunidade.


Os futuros incertos do tão comentado Metaverso

Outra tendência que se mostrou extremamente comentada no festival foi o Metaverso. O termo criado por Neal Stephenson nos anos 90 só tomou a atenção do público quase 30 anos depois, quando o Facebook realizou seu reposicionamento e passou a chamar-se de Meta. As muitas opiniões distintas sobre os futuros dessa “realidade paralela”, e até a presença de Mark Zuckerberg no SXSW, deixam claro as incertezas sobre o uso dessa tecnologia.

Hoje em dia, o metaverso é entendido como um espaço digital onde pessoas se encontram e interagem. O formato é gamificado e desenvolvido por plataformas como o Decentraland e o Horizon Worlds, que usam “mundos abertos” e permitem que o usuário crie seu avatar e navegue pelo espaço. A grande questão do formato atual é que ele ainda tem sérios problemas de acessibilidade e usabilidade. Ou seja, não é fácil e intuitivo navegar nas plataformas.

O que tem sido muito comentado no SXSW é que os rumos dessa tendência provavelmente serão outros. Parafraseando uma fala de Amy Webb, futurologista a frente do Future Institute e palestrante do evento, “O metaverso é um tema guarda-chuva para tecnologias que fazem uma ponte entre o mundo digital e virtual”. Isso significa que para vivermos o metaverso não necessariamente precisamos estar à frente de uma tela, ou com um óculos de realidade virtual nos olhos. A essência do metaverso é apenas estar inserido em realidades diferentes e/ou complementares simultaneamente e sem fricções.

O tão temido Metaverso já está em nossas vidas. Quando estamos em casa, entrando em uma reunião pelo Google Meet, Zoom, ou qualquer outro programa similar, estamos habitando “um mundo novo”. Não estamos mais “só em casa”, mas também no local de trabalho. Outro exemplo é o uso de fones de ouvido sem fio. Sem usar as mãos estamos ao vivo em um lugar, porém em outro totalmente distinto através do som.

Desse modo, obtemos a constatação de que não é (somente) sobre nos “recriarmos” em um avatar ou ter uma interação realista usando óculos de VR. É não esquecer de ser quem já somos, dentro do que já estamos inseridos e acrescentar a essa receita uma nova camada digital.


O fim da privacidade em um mundo conectado por inteligência artificial

Por fim, um assunto sensível dessa revolução das máquinas é a nossa privacidade, ou o fim dela. Com os grandes avanços da inteligência artificial, fica cada vez mais difícil se tornar “invisível” em uma sociedade digitalmente controlada. Em um cenário catastrófico, Amy Webb prevê um grande mercado futuro de maquiagens para a pele, mas não as bases corretoras de poros e espinhas que estamos acostumados. Esses ‘claims’ dão lugar a novas features do produto, que prometerão conter tecnologia especializada em confundir câmeras de reconhecimento facial.
Brincadeiras à parte, o futuro do reconhecimento é inevitável e será impossível se esquivar dele.

Novas tecnologias – que sim, já existem! – são capazes de reconhecer um indivíduo não apenas pelo seu rosto, mas utilizando sensores de batimento cardíaco a metros de distância. Outro formato é o reconhecimento via composição celular da pele. Basta um simples escaneamento de qualquer área da superfície corporal para que seja possível mapear exatamente quem é quem.

Essa enorme quantidade de dados mapeados, cruzados com informações de consumo e saúde pode ser, de fato, o fim dos nossos tempos de privacidade. Mas, o grande problema é ainda a falta de cibersegurança que paira pelo universo digital. Essas informações nas mãos erradas podem gerar grandes danos a sociedade e seus indivíduos.

Fonte: Consumidor Moderno
Tecnologia & Inovação Postado em terça-feira, 08 de março de 2022 às 10:32


O abismo social existente em todas as vertentes da nossa sociedade, inegavelmente, também está presente na tecnologia.

Metaverso é a palavra do momento para quem se interessa pelo universo da tecnologia. Ele promete revolucionar nossas relações virtuais e, consequentemente, todas as relações de trabalho à distância, e-commerce, entretenimento e por aí vai.

O conceito de metaverso pressupõe a criação de uma internet em 3D que se conecta ao mundo físico de forma natural. Nessa nova web, é possível interagir com entidades virtuais “trazidas” para o mundo real, da mesma forma que nos leva para o mundo virtual. O usuário, em vez de consumir texto, vídeo e áudio por uma tela, pode “entrar” num mundo virtual, com a possibilidade de sentir, fisicamente, sensações vividas pelo seu avatar (representação do ser humano no metaverso).

O pensamento corrente é que o metaverso é importante porque vai inspirar uma nova economia movimentada em todos os níveis. Esse pensamento me parece muito pequeno e até mesquinho diante dos desafios do mundo real, com uma imensa desigualdade e desafios sociais e econômicos a serem vencidos. Faltam vínculos dessas novas ideias com uma realidade inclusiva que contemple os ditames da sustentabilidade, os quais regem os princípios ambientais, sociais e de governança das empresas.

Assim como ocorrem com outras possibilidades tecnológicas, cuja necessidade e realidade são discutíveis, o fato do metaverso estar se tornando algo possível não quer dizer que seja prioridade para a sociedade nesse momento.

É preciso inclusive colocar o pé no chão e considerar a realidade do nosso país em relação a esse universo que engloba a internet 3.0. A pandemia da covid-19 demonstrou o quanto ainda o Brasil necessita de investimento na sua digitalização. Ainda que pesquisas demonstrem que 81% da população já tenha acesso à internet, a qualidade dessa conexão nem sempre é o suficiente para tarefas básicas, como a educação à distância, por exemplo.

A maioria das pessoas tem planos por franquia, isso é, o consumidor tem uma determinada quantidade mensal de dados para trafegar durante o mês e, a partir do momento em que aquela quantidade se esgota, só é possível acessar Facebook e WhatsApp. A média de dados dessas franquias é de até 2 GB por mês, o que não é o suficiente nem para assistir uma aula de duas horas. E, como sabemos, a falta de educação de qualidade é o principal fator que segrega ainda mais os pobres dos ricos.

A situação tende a ficar ainda mais evidente quando as tecnologias disponíveis para a imersão no chamado metaverso estiverem efetivamente disponíveis. Esse novo espaço virtual coletivo só poderá ser acessado por meio de uma fusão entre a internet e a realidade aumentada, cuja conexão se dará mediante o uso de óculos inteligentes. Atualmente esses óculos podem custar em torno mais de R$ 8 mil, dependendo do modelo e qualidade. Se a grande maioria da população não tem dinheiro nem para comprar um celular 5G, que dirá óculos inteligentes, ou qualquer outro objeto do gênero.

Isso mostra que o abismo social existente em todas as vertentes da nossa sociedade, inegavelmente, também está presente na tecnologia, pois mesmo com o seu avanço, apenas uma parcela da população poderá ter acesso a estas novidades.

Está aí uma das grandes questões políticas do nosso tempo: como garantir redução das assimetrias de poder, estimular a cidadania e tirar o melhor proveito possível das expansões da internet do futuro? A pergunta é clássica e nos acompanha desde a década de 1970. Há inúmeras alternativas na mesa, que passam por uma multiplicidade de ações por grandes corporações, investimento em processos de escuta ativa da sociedade civil, incentivos e prêmios para projetos de interesse coletivo (museus interativos, projetos de conscientização ambiental, bibliotecas do bem comum) e muitas outras ideias. O problema não é falta de ideias, que borbulham em centenas de entidades civis e centros de pesquisa. O problema é a falta de vontade política para executá-las, seja no plano privado ou público.

Cabe a nós, como sociedade civil organizada, atentarmos para esse futuro. Como no filme “Matrix”, em que o personagem Morpheus oferece para o protagonista Neo a possibilidade do herói tomar uma pílula da ilusão e outra que lhe mostra a verdade, nós temos que nos perguntar todos os dias se estamos questionando a Matrix ou apenas retroalimentando a sua existência.

Fonte: Revista Oeste