“Alexa, me lembre de trocar meu botijão de gás.” “Google, me ensine a escovar os dentes da forma correta?”
Disparar comandos de voz para assistentes virtuais ainda soa estranho para você? A Benext aposta que, mais cedo ou mais tarde, isso vai mudar.
A startup carioca desenvolve interfaces e aplicativos que oferecem soluções de voz aos consumidores, ajudando a estreitar sua relação com as empresas.
Daniel Deivisson, 47, CEO da Benext, explica:
“Nascemos numa indústria que tem um potencial enorme, acreditando numa coisa que nos move até hoje. Colocamos a voz como um elemento primordial na relação entre homens e máquinas. Nesse contexto, desenvolvemos tecnologia e fraseologia, para uma internet conversacional”.
Inteligências artificiais como a Alexa, da Amazon, e o Google Assistant vêm se popularizando, por meio do acesso via celular ou através de aparelhos como o Echo Dot. Esse mercado, que em 2020 estava estimado em 1,7 bilhão de dólares, deve decolar e pode atingir 8,9 bilhões de dólares até 2027, segundo um relatório de tendências publicado em abril deste ano.
Além de desenvolver soluções de voz à frente da Benext, Daniel mantém o New Voice, dedicado à cobertura desse universo. No próximo dia 23, o portal organizará o New Voice Summit, um evento online e gratuito sobre o setor de apps de voz.
A STARTUP ESTREOU CRIANDO UMA SOLUÇÃO DE VOZ PARA A COLGATE
O primeiro cliente da startup foi a Colgate, que segue com eles até hoje. A ação que inaugurou a parceria rolou no fim de 2018, destinada à área de crianças e família do Google Assistant.
Basta falar com o app do Google no celular que a interação começa. “Vou ensinar você a escovar os dentes sozinho colocando essa música”, responde uma voz, convidando a criança a aprender sobre os melhores hábitos de higiene bucal. Daniel afirma:
“As crianças adoraram, tivemos centenas de milhares de acessos. Imagine o valor intrínseco que isso tem… A marca não pode fazer publicidade diretamente para o público infantil, mas pode oferecer um serviço como esse, de ensinar a criança a escovar os dentes”.
Aquele iniciativa original continua no ar, com alguns aprimoramentos na tecnologia, segundo o CEO. Hoje, a Benext acumula outros projetos para a Colgate: uma central de voz voltada aos cuidados bucais e um tira-dúvidas de higiene da boca.
JORNALISTA DE FORMAÇÃO, DANIEL SE DESCOBRIU EMPREENDEDOR SERIALCom formação em jornalismo e especialização em marketing, Daniel se descreve como um raro caso de jornalista afeito a negócios. “Tem muito preconceito contra isso nessa carreira”, afirma.
Empreendedor serial com foco em negócios digitais, ele lançou em 1999, então aos 26 anos, o Guia Local, um guia de cidades online criado em parceria com a Telefónica, em Madri.
“A bolha de 2000 definiu alguns negócios. O meu não prosperou, mas fazer um negócio internacional deu uma mudança muito grande na minha carreira”
Depois disso, ficou por quase cinco anos na Oi, como gerente de marketing e diretor de internet. Mas a necessidade de empreender voltou a bater.
Em 2006, ao lado de Brunno Gens (hoje seu sócio na Benext), Daniel lançou a agência digital Frog, que cuidava da comunicação digital e mídias sociais de empresas como Vale e Varig.
Ele deixou a empresa no fim de 2015. E, já em janeiro do ano seguinte, embarcava em outra empreitada, como sócio na DDzero4, especializada em negócios para mobile, mídia e digital.
PARA EMPREENDER NOS VOICE APPS, ELE RECRUTOU DOIS EX-COLEGAS DAS ANTIGASEm 2017, farejando os primeiros sinais do boom desse mercado, Daniel resolveu empreender no setor dos voice apps.
Para o novo projeto, recrutou dois colegas que conhecia há mais de 20 anos: Brunno Gens, seu ex-sócio na Frog, e Enio Santiago, com quem já tinha trabalhado em seus tempos de jornalista.
“Em nove de dez startups, a tendência é chamar pessoas com quem se tem relacionamento ou já trabalhou. Desculpe o clichê, mas todo negócio é feito de gente. E nunca vi um bom negócio com gente ruim por trás dar certo”
O investimento inicial veio do bolso dos próprios sócios, cerca de 700 mil reais que bancaram o primeiro um ano e meio de operação. bNaquela fase, a palavra de ordem era aprender. Depois de contratar os primeiros três funcionários, a Benext se focou em desenvolver a tecnologia de voz e a escrita (ou seja, o roteiro de texto que determina a experiência do usuário).
Esses dois fatores combinados são o que “ensinam o robô a falar”, segundo Daniel: “Significa criar o diálogo, entender o que as pessoas vão perguntar — e como as frases vão ser respondidas.”
AS SOLUÇÕES DE VOZ TAMBÉM AJUDAM A VENDER BOTIJÕES DE GÁS E JOGOS DE TABULEIROEnquanto desenvolviam as primeiras soluções para a Colgate, os sócios iam aprendendo as manhas de ensinar seus robôs a se relacionarem com os usuários da Alexa e do Google. “Parte relevante do negócio aprendemos já sendo high-end developers para grandes empresas”, diz Daniel.
Outro projeto que acelerou o aprendizado foi desenvolvido em 2019. A Benext criou uma solução de venda de botijões de gás por voz para a Supergasbras.
“Tínhamos uma interface que se integrava ao sistema deles para fazer um pedido. Fomos a um alto nível para entender como conseguiríamos, usando a voz, qualificar o usuário, entender seu endereço, entrar no sistema e fazer um pedido”.
Em seu portfólio, a Benext apresenta ainda ações de branding para as cervejarias Skol e Colorado (ambas da Ambev) e uma parceria com a Grow, lançando versões em voz de uma trinca de jogos de tabuleiro que fazem parte da infância (e por que não do presente?) de muitos marmanjos de hoje: Master, Perfil e Imagem & Ação.
“São muito acessados no mundo inteiro”, diz o CEO da Benext. “Em língua inglesa vão muito bem, assim como em espanhol, no México.”
A BENEXT CRIOU UMA FERRAMENTA PARA ANALISAR E DESENVOLVER APPS DE VOZEm abril deste ano, a startup lançou uma ferramenta de análise de dados de acesso e interação de usuários, para ajudar companhias a entender como os consumidores navegam pelos voice apps.
Batizada de Bevoice, a ferramenta está disponível em português, inglês e espanhol.
“Como desenvolvedores, sentimos a falta de ferramentas que ajudassem no dia a dia na análise de dados, de resultados e do comportamento dos usuários. Desenvolvemos o Bevoice durante um ano e meio, com o trabalho de engenheiros de software do Brasil, Índia e Estados Unidos”.
Após o lançamento, em abril, a Benext incorporou uma nova funcionalidade, que permite criar voice apps de forma simples, sem necessidade de mexer com códigos de programação. A ferramenta também oferece alguns templates prontos de escrita de perguntas e respostas.
O próximo passo, explica Daniel, é a criação de um modelo de comércio por voz, que poderá ser acoplado a algumas das principais plataformas do mercado.
A PERSPECTIVA É CRESCER NESTE ANO TRÊS VEZES MAIS DO QUE EM 2020Devido à pandemia, dizem os sócios, a Benext teve em 2020 um resultado aquém do esperado. Mas 2021 será o ano da virada, dizem: eles projetam se recuperar das perdas crescendo três vezes mais do que no ano passado, impulsionados pela venda de aparelhos com assistente de voz.
“No Prime Day, o Echo foi o produto mais vendido do site. E, no Brasil, são 170 milhões de celulares com o Google Assistant pré-instalado, [somos] o terceiro país em uso do aplicativo e ainda com um potencial enorme. Acreditamos que existe uma quantidade de dinheiro e de projetos represados que vai explodir no final de 2021 e em 2022”.
O objetivo é ser reconhecido em breve como player global, brigando em alto nível não só no mercado latino-americano, como nos Estados Unidos e na Europa. Para tracionar o negócio, a Benext se prepara para captar investimentos:
“Temos que ser um Usain Bolt com fôlego de maratonista”, diz Daniel. “Sabemos que não é do dia para a noite: precisamos estar posicionados, com caixa e fôlego para aguentar esse longo prazo.”
Fonte: Projeto Draft