Notícias


Varejo & Franquias Postado em terça-feira, 27 de abril de 2021 às 13:57


Especialistas analisam recentes fusões e aquisições de empresas de moda varejista e explicam o movimento por trás da consolidação do setor.


A fusão do Grupo Soma (SOMA3) com a Cia. Hering (HGTX3) irá transformar o novo negócio combinado em uma das cinco maiores companhias do setor de varejo de vestuário do país, considerando métricas como receita líquida e número de lojas. Os dados deixam clara a tendência de consolidação do segmento, que nas últimas semanas tem passado por fortes movimentações de fusões e aquisições.

O Grupo Soma, que registrou em 2020 uma receita líquida de R$ 1,243 bilhão e a Hering, que apresentou receita de R$ 1,074 bilhão, apareciam na sexta e na sétima posições, respectivamente, entre as empresas com maior faturamento do setor de vestuário no ano passado. Mas juntas, as empresas teriam registrado uma receita de R$ 2,317 bilhões e passariam à quarta posição no ranking, conforme pode ser observado na tabela abaixo.

Gabriel Trebilcock, gestor de renda variável da ACE Capital, afirma que a onda de fusões no país está ligada ao perfil do mercado, que é muito pulverizado.

“Essas lojas de roupa médias, que tiveram coleções encalacradas no inverno com o isolamento e não produziram no verão porque as fábricas estavam fechadas, agora acabam sendo vendidas praticamente de graça. E empresas maiores, como a Arezzo e o grupo Soma vão às compras”.

Trebilcock cita um ranking que mostra que o mercado de varejo de vestuário no Brasil é o mais pulverizado dentre um grupo de oito países. Aqui, as cinco maiores empresas de vestuário representam 26,1% do mercado, contra 45,6% no Reino Unido, 43,2% no Mexico, 40,3% na Espanha, 39% em Portugal, 34,9% nos Estados Unidos e 28,5% no Canadá.

Na tabela abaixo é possível observar a participação de mercado das principais varejistas de vestuário do Brasil em 2020:

Trebilcock afirma que a compra da Hering se diferencia das outras feitas pelo Grupo Soma pelo tamanho do negócio. Hoje a Farm representa 43% do faturamento do Soma e a Animale 32%. E as últimas aquisições da Soma, como a NV, marca da Nati Vozza, eram negócios que correspondiam a menos de 15% do faturamento. “As operações diluíam o risco e desconcentravam o negócio. Agora, a Hering deve representar 50% do faturamento, a Farm 25% e a Animale 15%, então muda o olhar do analista porque a empresa agora se concentra em três marcas, com destaque para a Hering, e as outras perdem relevância”.


Ele acrescenta que a estratégia por trás dessa aquisição mais graúda é elevar a receita da empresa mais rápido e tornar o negócio mais relevante no mercado. “Com a Hering, a Soma se solidifica como uma das cinco maiores empresas de varejo do Brasil. Ao somar as 778 lojas da Hering e as 264 da Soma, elas passam a ter 1.042 lojas. A Arezzo, que é a maior hoje em número de lojas [no varejo de vestuário] tem 900 unidades.”

Como é possível observar abaixo, hoje a Hering é a segunda maior empresa de vestuário em número de lojas, mas junto com o Grupo Soma, o negócio combinado passará ao topo do ranking.

Além dos fatores citados, o gestor da ACE Capital comenta que a saída de marcas estrangeiras do mercado brasileiro também favorece a fusão. “Em 2019 e 2020, tivemos a saída de marcas como Timberland, Forever 21, além de Vans e Nike, que passaram a vender seus produtos via terceiros. A saída dos estrangeiros facilita negócios como a Soma, que também com a pandemia e o dólar alto tem menos concorrência porque seus clientes não estão viajando para comprar lá fora”.


Veja análises sobre a fusão e o futuro do grupo Soma, e por que gestores veem potencial na combinação com a Hering, apesar de avaliar que a transação pode ter sido cara.


Consolidação do varejo

As últimas semanas têm sido movimentadas no setor de varejo. Antes da compra pelo Soma, no último dia 7, a Hering informou ao mercado ter recusado a proposta feita pela Arezzo (ARZZ3) para a combinação das operações entre as duas companhias.

Na segunda-feira (19), as Lojas Renner (LREN3) confirmaram a realização de uma oferta de ações para levantar até R$ 6,5 bilhões com o objetivo de comprar uma empresa do setor varejista. Na sexta-feira anterior (16), quando os primeiros rumores surgiram, ações da C&A (CEAB3), Lojas Marisa (AMAR3) e Hering (HGTX3), subiram ao serem vistas como as principais candidatas. Mas, na terça-feira (20) da semana passada, um outro player apareceu como o principal alvo: o e-commerce de moda Dafiti.

Também na terça-feira passada, as Lojas Americanas (LAME4) anunciaram a compra do Grupo Uni.Co, dono da Imaginarium e Puket.

O movimento recente de fusões e aquisições (M&A) do setor varejista é fruto da segunda onda da pandemia, que trouxe novas restrições e prejudicou mais uma vez o consumo no país, principalmente de itens não essenciais. Um setor de vestuário pulverizado e composto por pequenos negócios é ambiente fértil para essa tendência de consolidação.

Empresas maiores e com melhor saúde financeira aproveitam o momento para comprar negócios menores com desconto, já que muitos deles passam por dificuldades diante dos efeitos da crise gerada pela Covid-19. Em muitos casos, a única saída para não fechar as portas é se fundir a outro negócio.

Em reportagem anteriormente publicada pelo InfoMoney, Gilberto Nagai, head de renda variável da BNP Paribas Asset Management, afirmou que as empresas de capital aberto brasileiras, de forma geral, estão capitalizadas, diante da recuperação da economia global e das injeções de estímulos dos governos, que propiciaram bons resultados às companhias, sobretudo no fim de 2020. “Essas empresas não só sofrem menos que o PIB, mas veem oportunidade para se consolidar. Como sempre nessas crises há uma diferença grande entre as empresas listadas em Bolsa, que são mais consolidadas, e a economia no geral.”

Osias Brito e Maurício Nozawa, sócios-fundadores da BR Finance, boutique de investimentos especializada em M&A, afirmam que o vestuário captura com mais intensidade o movimento porque foi um dos mais prejudicados pela crise.

“O ano passado foi perdido para negócios do varejo físico, que tiveram uma depreciação relevante. A Hering perdeu 30% do faturamento, a Soma teve queda de 3,5% no ano, mas com o e-commerce conseguiu se adaptar. Outras marcas muito boas como Riachuelo e C&A também sofreram na pandemia. Essa crise mexeu muito com o varejo físico, que ainda vai ter consolidações, temos certeza disso”, afirmam Brito e Nozawa.


Foco em complementaridade e no online

Para os sócios da BR Finance, as empresas que devem se sobressair nesse cenário são aquelas que buscam aquisições com foco em complementaridade. São consolidações que não têm o objetivo de “crescer para os lados”, no mesmo segmento, mas que buscam expansão para segmentos em que não são tão fortes.

Isso explica por que as ações da Renner subiram mais com os rumores de que ela compraria a Dafiti do que quando as notícias apontavam que o alvo poderia ser uma empresa mais focada em lojas físicas, como C&A, Marisa ou Hering. “A Renner tem uma gestão excelente, muito boa. Se ela fizer aquisição no varejo físico, ela vai ocupar a mesma marca num outro espaço, então o mercado não vê tanta geração de valor”, dizem Brito e Nozawa.

A integração de canais físicos e online, a chamada “ominicanalidade” (do inglês omnichannel), foi um dos aspectos que mais animou os analistas em relação à fusão da Hering e do Grupo Soma.

“O que me encantou ao longo de 2020 no grupo Soma foi a ‘omnicanalidade’ deles, que de fato funciona. As vendas em mesma lojas, considerando o online, ficaram próximas a zero em um ano que os concorrentes tiveram fortes quedas. As vendedoras se comunicam bem com clientes, sabem usar o Instagram, o site funciona. Eles têm 40% mais visitas que a Hering, então se a Hering conseguir metade disso já vai ser um ganho enorme”, diz o gestor da ACE.

Apesar de citar que o modelo de franquias da Hering traz desafios para a fusão com o Soma, o Trebilcock afirma que a marca de vestuário básico tem um brand awareness (um conhecimento de marca) excepcional no mercado brasileiro.

“No Brasil, ao falar em camiseta básica, as pessoas só falavam em camiseta Hering, a marca é muito conhecida. Mas ela se perdeu nos últimos anos com problemas de coleção, mudança de estilo e abriu avenida para outras entrarem no segmento de moda básica. Se ela tiver o digital funcionando e em dois dias o produto chegar na sua casa, a Hering tem um grande potencial e pode voltar a se posicionar ainda mais nesse sentido, de que roupa básica só tem Hering no Brasil”.

Veja no ranking a seguir as empresas com sites mais visitados no mês de janeiro de 2021:


Futuros alvos?

Angelica Marufuji, analista de varejo e sócia da Meraki Capital, diz que o principal foco do mercado agora são os próximos passos da Renner, de olho na Dafiti, e da Arezzo, que não levou a Hering na sua primeira movimentação e agora deixa a dúvida de quem será seu próximo alvo.

“Outra dúvida é se o grupo Soma para por aí, momentaneamente, e depois volta a olhar ativos ou não. Mas esse movimento de M&As continua, as empresas listadas estão mais capitalizadas e têm mais oportunidade na crise de fazer aquisições estrategicamente muito interessante por ter acesso ao mercado de capitais”, afirma Angelica.

Um outro efeito da pandemia ainda deve ser visto entre os fundos de private equity, segundo o sócios da BR Finance. Esses fundos que aplicam diretamente em capital de risco (investimento direto em negócios), fizeram aportes em companhias de varejo nos últimos anos e agora podem se desfazer de suas posições.

“Alguns exemplos são a saída da 2bCapital na Aramis, e do Kinea na Lojas Avenida. São sinais de que as varejistas podem ir atrás dessas empresas. Le Lis Blanc [Restoque], em dificuldades, também pode ser alvo de aquisições.”

Fonte: Infomoney
Varejo & Franquias Postado em terça-feira, 27 de abril de 2021 às 13:33


Pesquisa do Distrito mostra avanços e aponta tendências nas retailtechs para 2021.

Os investimentos nas startups de soluções ao varejo, as retailtechs, está atingindo níveis sem precedentes. De acordo com o mais recente relatório do Distrito, o Inside Retailtech Report, as startups dedicadas a encontrar soluções inovadoras para o varejo já receberam US$ 682,4 milhões em pouco mais de três meses em 2021. De acordo com o relatório, o valor já ultrapassa o total de investimentos no setor em 2018 (US$ 675,4 milhões) e corresponde a 95% do total investido em 2020 (US$ 712,3 milhões).

Diante do grande momento do setor apresentado no relatório, o Distrito está lançando um programa de aceleração voltado exclusivamente para as empresas inovadoras do varejo. Em uma parceria com a comunidade de empreendedores Darwin Startups, o programa Retail Scale fará um processo de seleção em diversas etapas, das quais 15 startups serão selecionadas para uma fase de imersão em junho e julho.

Delas, cinco finalistas receberão aportes e serão aceleradas pelo Distrito durante seis meses.


Aumento das retailtechs

No total, foram 801 retailtechs mapeadas no relatório, que somaram 371 rodadas de investimento e tiveram 69 fusões e aquisições – o que dá uma visão global e completa do cenário da inovação no setor.

Acima, gráfico do Distrito aponta evolução do número de retailteachs fundadas desde 2000./Distrito

Em sua maioria, as retailtechs focam nas empresas, mas de acordo com o relatório, o mercado B2C pode e deve crescer. “Um movimento realizado há alguns anos nos EUA e que pode começar a ser seguido no Brasil pode mudar esse panorama, aumentando a participação da retailtechs focadas no consumidor final. Trata-se de um modelo conhecido como D2C, empresas que possuem indústrias e fazem as vendas diretamente para o consumidor.”
O B2B hoje é predominante em quase todas as categorias.

Evolução dos investimentos

Tendo em vista que as retailtechs brasileiras já receberam mais de US$ 650 milhões em 2021, a Distrito aponta que o digital e os negócios inovadores vieram para ficar no setor – “e talvez tenham sido estimulados exatamente pela mudança de comportamento dos consumidores frente ao isolamento social”.

No mapa dos investimentos por segmento, o e-commerce teve US$ 438 milhões em 11 investimentos, com a maior rodada à MadeiraMadeira, de US$ 190 milhões. Em seguida, o setor com mais investimentos foi o de logística, com US$ 217 milhões sendo US$ 212 milhões para a Loggi. O terceiro segmento foi o de pagamentos, com US$ 27 milhões em três investimentos e o maior aporte à TradeMaster (US$ 18,5 milhões). O varejo alimentar foi o quarto segmento mais investido, com US$ 5,4 milhões em três investimentos. Nele, a maior parte foi à Shopper (US$ 5 milhões).

Acima, gráfico do volume e número de investimentos em retailtechs desde 2011/ Distrito

Em termos de perspectivas de investimentos, a Distrito tem um algoritmo que analisa o comportamento das startups que receberam aportes e pode fazer previsões sobre negócios que podem receber futuros aportes. A inteligência tem duas variáveis: o DM Score e o Trel. O DM Score mede o quanto uma startup está acima da média em seu setor a partir do número de funcionários e crescimento no último ano, do faturamento presumido, do investimento captado e dos acessos e métricas em seus canais. Enquanto isso, o Trel é uma variável que compara o tempo de captação desde a última rodada com a média no setor.

Assim, de acordo com o algoritmo, a especializada em soluções ominicanal Neomode, a solução colaborativa de fretes e entregas urbanas Uello e a especializada em produzir comida em escala e vender online Mimic são três possíveis startups do setor de retail com grande maturidade e timing adequado para novo estágio de financiamento.

Sobre os investimentos no setor, o CEO da HiPartners Capital & Work, Walter Sabini, lembra que hoje o desafio maior está mais na cultura das empresas do que propriamente em serviços e plataformas disponíveis. “Há inúmeras soluções disruptivas já desenvolvidas, mas que ainda precisam de um mercado mais maduro”, diz ele na visão de um portfólio com oito retailtechs.”Por isso, o caminho é trabalhar do lado do varejista para que ele se sinta parte do negócio e fomente investimento em plataformas que acredite. Assim, conseguimos criar um clico virtuoso e de ganha-ganha em ambos os lados. Além disso, a coalisão entre marcas também trará um crescimento exponencial e sem precedentes para o setor”, observa o executivo.

O relatório também aponta que as fusões no cenário nacional também evoluem consistentemente. Enquanto em 2018 foram três, elas chegaram a 12 em 2019, subindo para 27 em 2020 e atingindo um total de 12 só nos primeiros meses deste ano.


Um olhar mais atento para a logística

Também com avaliações sobre a logística do varejo nacional, o estudo observa as diferenças do Brasil para os benchmarks do segmento e aponta sua perspectiva mais provável para o futuro próximo.

Segundo o Distrito, a penetração do e-commerce é de 20% no varejo nos EUA e de 40% na China. No Brasil, atualmente ela é de 10% segundo a plataforma de opinião de consumidores EBIT. Assim, a tendência é que o Brasil avance para números semelhantes a estes países. Para este ano, a previsão é de 26%.

O Distrito aponta que tal avanço deve acontecer porque os maiores varejistas e marketplaces do País tendem a verticalizar semelhantemente à Amazon, em um movimento pautado por inovações e forte pipeline de M&As de startups que têm soluções tecnológicas voltadas à eficiência de suas operações logísticas. Como mostra o estudo, o setor pede um ecossistema e está construindo-o, a exemplo do Mercado Livre com o Mercado Envios que entrega 96% das vendas do marketplace.

Fonte: Consumidor Moderno