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Estratégia & Marketing Postado em terça-feira, 13 de março de 2018 às 20:33
O avô de Bel Humberg tinha o seguinte ditado: uma pessoa pode ser catadora de feijão, e ficar caçando aquilo que não presta, que vai ser descartado, o que é ruim, ou de diamantes — aquelas que vão procurar no meio do rio, na lama, aquilo que brilha. Bel dizia ao avô que queria a segunda opção: buscar pedras brutas que podem ser lapidadas e ter um imenso valor.

Desde a infância, Bel, que levou, com suas sócias, o e-commerce de moda OQvestir do zero para um faturamento de R$ 100 milhões em seis anos, está em busca de diamantes: oportunidades, negócios, pessoas e conexões com imenso potencial de valor, desde que alguém esteja disposto a encontrá-los e lapidá-los. Nessa jornada, ela lembra de outro ensinamento do avô: “A história não fala dos covardes”.

Bel nasceu em São Paulo, em uma família tradicionalmente paulistana, mas isso não significava moleza: para qualquer gasto extra era preciso se virar: por isso, já dando bons sinais empreendedores, vendia ovo de páscoa, sanduíche natural, camisetas, dava aulas particulares…

Sempre muito intensa e esforçada, na hora de escolher a faculdade ela foi fazer logo duas: psicologia e direito. “A vida é só uma, e eu tenho tantos sonhos a realizar”, conta ela.

A força da gentileza

Em 1995, recém-formada e recém-casada, ela recebeu a proposta de montar a filial do escritório Demarest, um dos mais importantes do país, no Rio de Janeiro. “Para uma catadora de diamantes, vi ali uma linda oportunidade de tirar um projeto do papel, lapidá-lo e fazê-lo brilhar.”

Se hoje a questão das mulheres em cargos de liderança ainda é um desafio, imagine a situação mais de 20 anos atrás. Bel conta que o chefe a apresentava assim:

“Essa é a doutora Isabel, ‘o nosso homem no Rio’”.

Às vezes, clientes entravam na sala de reunião e questionavam: “Cadê o advogado?” Por isso, ela teve de aprender desde cedo a conquistar seu espaço, usando, em vez de força, gentileza.

No fim dos anos 1990, com as privatizações, o setor elétrico estava em plena transformação. E Bel se especializou no tema: rodou o país inteiro enquanto era criada uma nova regulamentação para o setor. O que a empolgava era participar da criação de algo novo. Lapidar.

Um encontro transformador

Foram mais de 15 anos trabalhando como advogada, em um ritmo acelerado. E Bel e o marido ainda tiveram três filhos em meio a essa agitação. Parecia que estava tudo pronto: ela tinha uma família, uma carreira consolidada… Quando ela chegou ao Rio, dividia uma sala com uma advogada. Quando voltou, já tinha montado um escritório com 80 profissionais. Aos poucos, ela foi perdendo o brilho nos olhos diante de tanta coisa pronta. Aparentemente, os diamantes já estavam bem visíveis.

Ela queria se reinventar, mas sem saber direito como. Até que um encontro, em uma quinta-feira qualquer de 2009, mudou a vida dela. Um Day1. Adiantada para uma reunião, ela parou o carro em frente a uma loja. O plano era fazer uma horinha. Ao entrar na loja, foi abordada por uma mulher.

– Acho que te conheço. O que você faz?

– Eu sou advogada

– Eu também! Aliás, era. Larguei tudo e agora vou vender roupa pela internet.

Bel ouviu a mulher falar com paixão do projeto, mas aí perguntou: Você já trabalhou com internet? Tem a plataforma? Já tem plano de logística? Tem time? As respostas eram “não”. Trocaram cartões. Será que ali havia um diamante?

Ao chegar em casa, comentou sobre o encontro com Paulo, seu marido, que participou da primeira onda de empresas de internet do país, no fim dos anos 1990. Uma referência no setor, fundador da empresa de investimentos A5 Capital Partners. Bel deu o cartão para o marido e pediu: “Fale com ela. Faça como se estivesse fazendo isso para mim”. Mas e se ela for uma louca?, ele perguntou. Ao que bel respondeu: “E se ela for outra catadora de diamantes?”.

Paulo falou com a mulher, gostou da ideia e se tornou o primeiro mentor e investidor-anjo de OQVestir.  Algum tempo depois, Mariana a chamou para tomar um café e entrar no projeto. O combinado era Bel ficar apenas por um mês — se não gostasse, seguiria na carreira de advogada. Só que já nos primeiros dias ela ficou completamente apaixonada.

“Vocês são loucas”

O início da jornada empreendedora, como sempre, foi uma rotina de quebrar pedras. Elas ouviram muito “vocês são loucas”. Imagine largar uma carreira consolidada para vender roupas pela internet — em um momento de crise econômica global, sem ter a experiência necessária, em um momento em que quase não havia lojas online desse tipo no Brasil.

“Exatamente quando você escuta ‘você é louca’ é que mora a oportunidade. Depois que todo mundo já entendeu, a oportunidade de ser pioneira já passou.”

Logo no começo elas perceberam indícios de que aquela era, de fato, uma boa ideia: novos clientes comprando e elogiando, marcas querendo entrar no site… Só que, elas sabiam, no e-commerce você precisa de investimento para escalar.

Um dia em 2010 um amigo comentou que um investidor americano estava interessado no modelo de negócios delas. Até aí tudo bem. A questão é que esse investidor estava no Brasil. E iria voltar para Nova York naquele dia. Bel e Mariana foram para o aeroporto de Congonhas, em São Paulo, pegaram o primeiro voo que passava pelo Galeão, no Rio, e foram atrás do investidor.  O encontraram numa lanchonete do Bob’s. Fizeram a apresentação, contaram como queriam escalar, como iriam atingir o break even…

Até que no fim do papo ele perguntou qual a referência de negócios elas tinham, e elas disseram Netshoes, que na época era basicamente a única empresa grande que vendia moda por aqui. Surpresa: ele disse que era investidor da Netshoes e deu a elas seu cartão. Só aí elas foram procurar na internet e se deram conta de que aquele era o Lee Fixel, da Tiger, um dos principais fundos de investimento do mundo… E ele estava ali conversando com elas numa lanchonete.

Três meses depois, ele se tornou o primeiro investidor do OQVestir. Investiu numa empresa que tinha 5 pessoas em uma sala de 70m2. Comprou a ideia, o planejamento, mas principalmente o brilho nos olhos das sócias.

Com o investimento, o negócio cresceu a um ritmo acelerado: 700% em 2011. Elas tinham claro o que não sabiam, por isso foram trazendo mentores para o negócio e, o mais importante, montando um time de profissionais incríveis — Bel tem certeza de que, em um negócio, o que há de mais valioso são as pessoas: o time, os parceiros, os clientes.

Calma de mãe

E colocar isso em prática a ajudou a navegar por momentos dificílimos, como a chegada de fortes concorrentes. Um deles, investido por grandes fundos, começou a agressivamente procurar os parceiros de OQVestir e se ofereceu a pagar mais pela mercadoria, e pagar à vista. O time se desesperou, com medo de ser atropelado. Mas, como uma mãe que mantém a calma em meio à tormenta e leva os filhos no caminho de uma solução, eles conseguiram superar a dificuldade.

Os próprios parceiros não aceitaram vender para o concorrente porque preferiram manter o bom posicionamento e a boa parceria que haviam construído.

Em seis anos, OQVestir se tornou líder e referência no segmento, com faturamento de R$ 100 milhões. Aquelas cinco pessoas em uma pequena sala se trasformaram em um time com 150 profissionais. Os processos estavam estruturados, a empresa estava supercapitalizada… Bel começou a sentir que a roda girava sozinha, que o diamante já estava lapidado. Era hora de a companhia ter um executivo à frente para prosseguir com a expansão. Empreendedora, Bel decidiu que era hora de buscar outros diamantes e decidiu deixar o cargo de CEO.

“O que me me move é formar time, catar diamantes, construir sonhos… ainda tenho uma caixa cheia deles!”

Desde então, ela resolveu “olhar fora da floresta”, se abrir para o novo. Hoje, ela é conselheira da EY no programa Winning Women, é mentora da Endeavor, atua em Conselhos de Administração… Busca devolver ao ambiente empreendedor tudo o que aprendeu com a sua jornada. Contribuir para que o Brasil tenha mais referências de empreendedores, e principalmente empreendedoras, como ela. Sempre caçando outros diamantes.

Fonte: Endeavor
Gestão & Liderança Postado em terça-feira, 13 de março de 2018 às 20:30
Michelangelo encarava o ofício de esculpir com a humilde convicção de que uma obra de arte singular e maravilhosa já existia na pedra, seu trabalho era somente lhe dar vida. Acreditamos que os melhores mentores adotam a mesma postura em relação à sua arte.

Psicólogos sociais provaram que nos melhores relacionamentos amorosos, os parceiros esculpem-se uns nos outros de tal maneira que fazem com que cada pessoa aproxime-se de seu eu ideal — a pessoa que eles querem ser. Neste processo, denominado Michelangelo phenomenon, um hábil e atencioso parceiro de relacionamento passa a se comprometer primeiro a entender, e depois a reforçar ou instigar, a forma ideal do outro. Mas um mentor capacitado também é capaz de assegurar o eu ideal do outro — aquela forma única, promissora, embora vulnerável, que pode estar escondida.

De que maneira exatamente um mentor fomenta a visão do eu ideal de seu discípulo? Na verdade, trata-se da arte da confirmação. Indícios revelam que dois componentes distintos de confirmação por parte do mentor entram em jogo. Primeiro aparece a confirmação perceptiva. Ótimo mentores deliberadamente dedicam parte de seu tempo para realmente “ver” seus discípulos, compreendendo — e aceitando — tanto o eu verdadeiro como o eu ideal deles, e o futuro que imaginam para suas carreiras. Isso exige tempo e paciência. Um mentor precisa conquistar confiança, ser acessível e ouvir generosamente. Eis o ponto principal: uma vez que o eu ideal do discípulo fica claro, o mentor deve consistentemente endossar sua visão.

O segundo elemento envolve a confirmação comportamental: ajudar o discípulo a demonstrar um comportamento alinhado com seu eu ideal. Passando a ter acesso a uma janela que mostra quem o discípulo sonha ser, o mentor abre uma porta e faz com que apareçam as oportunidades necessárias para que o discípulo alcance seu objetivo. Por exemplo, quando as percepções de Franklin sobre Shawna, bem como suas atitudes em relação a ela, corresponderem ao ideal de Shawna, Franklin começará a esculpir em busca do ideal dela — irá suscitar comportamentos e tendências consistentes com o eu ideal de Shawna. Ao longo de interações frequentes nas quais Franklin evoca seu eu ideal, Shawna irá desabrochar, chegando mais perto daquilo que almeja ser.

Pode ser complicado para mentores usarem o método de Michelangelo quando estão oferecendo mentoria para alguém do sexo oposto. Isso é particularmente verdadeiro quando temos mentores do sexo masculino trabalhando com discípulas, combinação mais comum do que a contrária. A verdade é que segue sendo mais comum ter homens em posições de alta liderança executiva na maioria das organizações, e por isso eles constituem a maior parte dos mentores.

Uma pesquisa sobre mentoria entre gêneros revela que mulheres enfrentam mais obstáculos na busca por um mentor, e mesmo quando conseguem, podem obter uma variedade mais limitada de benefícios profissionais e psicológicos. Uma das razões pode ser o fato de que quando se trata de competências sociais fundamentais como ouvir, homens têm dificuldades para colocar em prática o tipo de audição eficaz exigida para ajudar uma discípula a paulatinamente revelar seu eu ideal.

Podem os homens realmente personificar Michelangelo e orientar mulheres com a humildade e a paciência descritas acima? Nosso estudo sobre mentorias entre homens e mulheres sugere que sim, mas somente se eles trabalharem arduamente para reconhecer algumas das características da masculinidade social que frequentemente interferem em boas mentorias entre gêneros.

Em primeiro lugar, praticamente todos os mentores têm a tendência de se clonarem em seus discípulos. Ou seja, eles — muitas vezes de maneira inconsciente — incentivam os discípulos a seguirem trajetórias profissionais e a tomarem decisões pessoais ou ligadas às carreiras que espelhem as suas. Embora seja gratificante para o ego do mentor, a clonagem não poderia afastar-se mais da real confirmação de Michelangelo.

Ainda que isso ocorra tanto com mentores homens quanto com mulheres, nossa experiência aponta que pode ser mais difícil para mentores do sexo masculino superar esse obstáculo em virtude da maneira como homens e mulheres estão socialmente condicionados a ouvir, e porque as mulheres são (geralmente) mais relationship-oriented, isto é, voltadas para a satisfação, a motivação e o bem-estar da equipe, ao passo que os homens são (em geral, novamente) mais task-oriented, ou seja, mais focados nos resultados das tarefas. Para evitar essa tendência instintiva à clonagem, homens têm de trabalhar duro para realmente ouvir as mulheres que orientam, concentrando-se mais no relacionamento do que na tarefa específica que está sendo discutida. Eles também possuem uma maior tendência para pular para a parte da conversa voltada para correções e soluções em vez de se esforçar em ouvir, entender e avaliar a perspectiva dela.

Homens que desejam implementar um tipo de mentoria para mulheres baseada em Michelangelo podem ainda ser detidos por pressuposições problemáticas de gênero a respeito de suas discípulas. Se você que está lendo isso é um homem, complete rapidamente as seguintes frases: Ela é uma mulher, —————-por isso, ela deve querer________________, ela deve estar planejando________________, e ela provavelmente não tem interesse em________________. Se, depois de pensar por um tempo, algumas de suas respostas deixam-no envergonhado, saiba que você não está sozinho. Até pressuposições bem intencionadas podem produzir um efeito contrário.

Observem a história que Robert Lightfoot, diretor em exercício da NASA, nos contou e que demonstra como suas pressuposições fizeram com que ele tivesse uma leitura equivocada de uma determinada situação.

Realmente tive sorte de, no início de minha carreira, passar por “uma situação fundamental” acerca desse assunto. Eu fazia parte de um comitê de seleção de candidatos a uma vaga e um dos outros membros era um de meus próprios mentores, uma mulher. Muito rapidamente, o comitê chegou a um consenso sobre um candidato. Conforme as opiniões eram dadas por cada um de nós, fiz o seguinte comentário: “Este trabalho exige muitas viagens e ela acaba de ter um bebê. Não sei, isso pode ser bastante complicado para ela caso seja contratada”. Felizmente, minha mentora olhou para mim e disse de maneira bem clara: “Esta decisão não cabe a você! Ela sabe que tem de viajar, sabe que acabou de ter um bebê, não tome decisões por ela”. Aquilo me atingiu como se fosse uma tonelada de tijolos.

Outro elemento crucial no caminho da confirmação tanto da visão ideal do eu de uma discípula como de sua carreira é a genuína humildade de gênero. Essa é a arte de ser autoconsciente e humilde em relação a tudo que você não sabe sobre mulheres em geral e sobre a experiência de sua discípula especificamente como mulher. A verdadeira humildade de gênero exige curiosidade pura a respeito das experiências e preocupações singulares dela, transparência acerca dos limites de seu próprio entendimento e capacidade de demonstrar empatia conforme ela sente-se segura para revelar seus sonhos para o futuro.

Aqui cabe uma advertência. Caso uma discípula esteja almejando algo muito baixo ou se depreciando, um mentor comprometido irá delinear uma visão mais ambiciosa e inspiradora de seu potencial, incluindo possibilidades não consideradas. Grandes mentores muitas vezes têm a incumbência de criar uma imagem ousada e até audaciosa sobre os caminhos profissionais que podem ser traçados por seus discípulos. Sandy Stosz, almirante três estrelas da Guarda Costeira Americana, por exemplo, contou-nos recentemente a seguinte história.

“[Meus mentores] me mostraram possibilidades que eu não havia contemplado. Eles me deram a chance de olhar para além do que eu imaginava, que era me tornar uma marinheira e, um dia, comandar um navio. Me ajudaram a ter uma visão mais ampla, olhando não apenas para a Guarda Costeira mas para todo o departamento de transporte. Aqueles dois homens me mostraram que existem outras coisas além de se preparar para navegar, que existem excelentes empregos e possibilidades que eu não havia considerado”.

No fim, um grande mentor irá honrar o eu ideal e a carreira de seu discípulo (não aquela a qual ele se dedicou ou que espelhe sua própria carreira). Escultores atentos usam as ferramentas da audição paciente, do questionamento socrático, da aceitação incondicional, e da confirmação generosa para ajudar a conceber o sonho dos discípulos, a proclamá-lo e então passam a defender os esforços deles para realizá-lo.

Fonte: HBRB