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Varejo & Franquias Postado em terça-feira, 14 de dezembro de 2021 às 08:58


Priorizar a localização e a conveniência com serviços ágeis e automáticos tornaram-se essenciais para a recuperação e longevidade do varejo.

Grandes player do varejo brasileiro como Grupo Pão de Açúcar e Carrefour – só para citar alguns – há algum tempo focaram na criação de pequenas unidades de bairros (Minimercado Extra, Minuto Pão de Açúcar e Carrefour Express) com objetivo de aumentar sua capilaridade e dar maior conveniência para seus clientes. Seria o início de uma tendência?

Hoje, gradativamente, as pessoas ao redor do mundo se voltaram para a vida em comunidade e esse movimento se consolidou na pandemia. O espírito comunitário permanece, o movimento nos centros urbanos diminui, o home-office ganha espaço e o deslocamento dos grandes centros movimenta pessoas, negócios e marcas.

Dados da empresa HireAHelper, publicados pela WGSN, mostram que, nos EUA, por exemplo, pessoas estão trocando grandes centros urbanos como São Francisco e Los Angeles por cidades médias como Scottsdale, no estado de Arizona, e Columbus, em Ohio. E que 68% mais pessoas abandonaram Nova York em 2020 do que se mudaram para lá. Na China, milhões de pessoas não voltaram para as cidades onde trabalhavam no começo da pandemia.

No Brasil, cidades do interior do São Paulo e litoral passaram a receber mais pessoas e famílias interessadas em se mudar do que passar finais de semana. Um levantamento feito pelo grupo imobiliário ZAP apontou que de janeiro a maio de 2020 a procura por imóveis com mais de 100 quilômetros de distância de São Paulo cresceu 340%.


O PENSAMENTO HIPERLOCAL

São novos padrões de comportamento que estão mudando a sociedade e mudando o varejo no mundo todo. Esse cenário não está somente relacionado com o êxodo urbano, mas como as preferências dos consumidores por produtos locais impulsionam esse movimento. Essa tendência explora a praticidade e a conveniência, e sobretudo, cria oportunidades para varejistas e pequenos produtores. É o que especialistas chamam de pensamento hiperlocal.

Um estudo da Brightpearl, companhia britânica especializada em dados para varejo, revelou que seis em cada dez consumidores planejam consumir de forma mais local nos próximos 12 meses, enquanto uma pesquisa da também britânica Springboard, aponta que o movimento no comércio de cidades litorâneas e históricas do Reino Unido está crescendo até 37% a cada semana.

No Brasil, de acordo com estudo realizado pela Mastercard no final de 2020, 79% dos brasileiros preferiram consumir em comércios locais durantes a pandemia.  E de acordo com os dados, 91% dos pesquisados devem continuar com esse hábito após a pandemia.


Q-COMMERCE E A HIPERCONVENIÊNCIA

A expectativa do público em relação à conveniência também mudou desde o começo da pandemia. Fomos forçados a buscar e comprar produtos online e consumidores digitais nasceram por necessidade. As marcas enfrentaram desafios enormes para atender essa diversidade e volume, e o chamado q-commerce (‘quick commerce’, ou comércio rápido) passou a dominar as relações no varejo.

No Brasil temos alguns exemplos. Um deles é da Americanas S.A., que lançou recentemente a unidade Ame Go. A loja funciona por meio de inteligência artificial e wi-fi. Câmeras, sensores e computer vision estabelecem a relação com os consumidores, sem filas e sem atendimento. Para comprar, basta baixar o aplicativo que libera o acesso à loja por meio de QR Codes.

Pesquisas também revelam que a maioria das pessoas está disposta a pagar mais por entregas rápidas. Para o público, a velocidade não é mais um luxo, mas uma necessidade. Nessa esteira vimos o crescimento das dark stores (nome dado a centros logísticos automatizados especializados em entregas) que tem tudo para sobreviver à pandemia – vide a experiência da Amazon e da Alibaba com lojas automatizadas.

A Grocemania, uma startup de entrega de compras britânica, tem como maior atrativo sua velocidade. A promessa da empresa é entregar produtos de mercados selecionados em apenas uma hora. A startup trabalha com produtores independentes e locais, mantendo um inventário de produtos disponíveis para entrega em um período de 10 a 15 minutos.


CONVENIENTE AGORA PARA SER RELEVANTE AMANHÃ

Outro conceito apontado no relatório recente da WGSN é o da hiperconveniência. O varejista sueco Lifvs, por exemplo, escolheu a zona rural como destino de suas lojas automatizadas, oferecendo mais opções a comunidades sem acesso a supermercados. A Lifvs abriu 19 dessas lojas ao redor da Suécia em 2020. Essas lojas em formato de contêiner são transportadas até o local de funcionamento e administrada por pequenas equipes locais. Abertas 24 horas por dia, elas podem ser destravadas através de um app.

Certamente, a ideia de um varejo mais descentralizado e automatizado ganhou força com a pandemia. E isso não é fruto de um movimento isolado. Sem dúvida, zonas comerciais continuarão a serem populadas por versões menores de grandes varejistas. A automação de serviços e atendimento extinguirão filas. Os dados analisarão novos comportamentos e frequências.

O apoio a economia local, assim como a preferência pela residência fora dos grandes centros, reforça essa necessidade de observação e de transformação do varejo. Tudo isso traz um novo significado para o consumo. O fruto desses processos não será apenas uma nova experiência do cliente ou surgimento de um novo varejo, mas, o mais importante, o início do relacionamento com a próxima geração de consumidores.

Fonte: Consumidor Moderno
Gestão & Liderança Postado em terça-feira, 07 de dezembro de 2021 às 10:11


Startup de e-commerce social teve como inspiração o aplicativo chinês WeChat. Salto de crescimento veio depois da maior digitalização dos brasileiros.

A filosofia do move fast and break things (“mova-se rápido e quebre as coisas”) foi criada por Mark Zuckerberg, cofundador da gigante de tecnologia Facebook. Hoje, um ex-funcionário brasileiro da rede social está aplicando esse caminho para a inovação na sua própria startup.

O Facily começou há mais de três anos como um marketplace social: as pessoas se unem para fazer pedidos maiores pela internet e assim obter descontos. Essa proposta cresceu junto com a aceleração do e-commerce no Brasil. O Facily mediou 7 milhões de pedidos apenas em outubro. Está avaliado em US$ 850 milhões pelos investidores – um valor de mercado que se aproxima ao US$ 1 bilhão, que transforma as startups em unicórnios.

O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, conversou com Diego Dzodan, cofundador do Facily. Dzodan falou sobre o modelo de negócios da empresa; o crescimento do marketplace social durante a pandemia; e as dores do crescimento — incluindo uma escalada de reclamações que levou a uma ameaça de suspensão pelo Procon.


De inspiração chinesa a quase unicórnio

O Facily começou em abril de 2018. Os fundadores são Diego Dzodan, que trabalhou como vice-presidente do Facebook no Brasil; Luciano Freitas, ex-Airbnb e ex-Uber; e Vitor Zaninotto, ex-SAP. Dzodan diz que a inspiração surgiu em uma viagem à China.

“Nossos modelos de comércio eletrônico são inspirados nos americanos ou europeus. Mas os chineses descobriram modelos baseados em inteligência artificial e mensageria. Vimos como o WeChat permitia usar as mensagens entre amigos para fazer pedidos em grupo diretamente com fabricantes. Cortando os estabelecimentos como intermediários, o preço fica muito menor”, disse o cofundador do Facily. “Praticamente todo mundo tem acesso a um smartphone e a um aplicativo de mensagens no Brasil. Nosso mercado também é muito sensível a preço. Quanto mais testávamos, mais víamos que a ideia tinha a ver com a realidade brasileira.”


Modelo de negócio

O Facily tem seu modelo de negócio baseado em três teses. A primeira tese é focar em consumidores na base da pirâmide econômica brasileira, que estão mais de olho nos preços e são excluídos do comércio eletrônico tradicional por não terem cartão de crédito ou por acharem o custo de frete proibitivo.

A segunda tese é usar tecnologia para tirar intermediários e conectar fabricantes de alimentos, bebidas, beleza e eletrônicos aos seus consumidores finais (marketplace).

A última tese é a de agregação de demanda. Pessoas unidas em grupos fazem pedidos maiores, permitindo economia de escala aos fabricantes. O chamariz do negócio são justamente os descontos de até 70% em relação aos preços vistos nos supermercados.

O negócio lembra as compras coletivas online por cupons, que foram uma febre na primeira metade da década de 2010. Mas os cupons não sobreviveram. O Peixe Urbano, um dos ícones do modelo, está fora do ar faz meses. Para Dzodan, a grande diferença entre cupons e Facily está nos custos aos fabricantes.

“Os cupons agregavam demanda para um fornecedor, mas não mudavam sua estrutura de custos. O restaurante ofereceria um desconto para que um grupo grande viesse, mas o custo de atender todas essas pessoas continuava praticamente o mesmo. Já o nosso modelo muda a cadeia. Uma banana tinha que sair da roça para um agregador, para um Ceasa e só então para a prateleira do supermercado. Existe custo de frete, de desperdício e de margem para cada intermediário. Tiramos elos e esse custo cai não só por agregação de volume, mas também porque a conexão é mais eficiente”. Segundo Dzodan, os vendedores recebem mais pelo Facily mesmo que os preços sejam menores ao consumidor e que a startup cobre uma comissão média de 15% por venda.

O Facily cresceu suas vendas em 46 vezes entre janeiro e outubro deste ano. Apenas em outubro, foram mais de 7 milhões de pedidos realizados. Essa expansão atraiu o interesse de investidores. A startup captou US$ 366 milhões com fundos como Canary, Monashees e Tiger Global Management. A última rodada, uma série D fechada em novembro deste ano, avaliou o negócio em US$ 850 milhões. “Fechamos uma rodada atrás da outra porque os fundos estão interessados em acompanhar esse negócio de levar preços baixos e incluir uma parcela relevante da população brasileira no comércio eletrônico”, contou Dzodan.

Fontes de mercado afirmam que a Facilt está negociando uma nova rodada para avaliar o negócio em US$ 1 bilhão. “Sempre estamos em conversas, mas não temos nada para confirmar no momento”, completa o cofundador do Facily.


Obstáculos: logística, digitalização e atendimento

Porém, não basta copiar e colar um modelo chinês para dar certo no Brasil. Existem grandes diferenças entre os países. Duas delas são infraestrutura e penetração do e-commerce. “Nossa logística não está bem desenvolvida e temos uma participação bem menor das compras online por aqui”, diz Dzodan.

Para resolver o gargalo logístico, o Facily opera com 12 mil pontos de retirada em nove cidades brasileiras. Cada caminhão da startup roda com diversas compras e faz apenas o trajeto até o ponto de retirada, e não até cada casa de consumidor. Dzodan afirma que o custo do transporte aos pontos consegue ser absorvido pela startup. Já os consumidores veem o frete grátis como benefício ante outras lojas virtuais.

Já a penetração do e-commerce tem aumentado com o tempo, e foi acelerada com a pandemia do novo coronavírus. Antes da crise sanitária que obrigou o fechamento das lojas físicas, o e-commerce representava, em média, 9,2% da receita das varejistas. Mas, em julho do ano passado, com apenas quatro meses de pandemia, essa marca mais do que dobrou e foi para 19,8%. E, em junho de 2021, já estava em 21,2%.

Segundo Dzodan, o dinheiro dos investidores está sendo usado tanto no conhecido gargalo de logística quanto na melhoria de atendimento. As duas frentes se relacionam no aumento de reclamações. O Procon registrou 151 mil reclamações sobre a Facily até o dia 11 de novembro, que mencionavam problemas de falta de contato, entrega lenta e produtos chegando fora da validade. Em janeiro deste ano, havia apenas 21 reclamações.

“Um número de pedidos não chegou da forma que deveria chegar. Pedimos desculpas aos consumidores e conversamos há meses com o Procon para estruturar o atendimento dessas necessidades mais importantes”, diz Dzodan. A entidade de defesa dos direitos do consumidor ameaçou suspender o marketplace.

O Facily fechou um acordo com o Procon: reembolsou todos os 151 mil clientes e firmou o compromisso de reduzir as reclamações em 80% e de investir R$ 250 milhões em melhorias de atendimento e logística. “Essa redução de reclamações está sendo executada e nossa meta agora é zerar as reclamações nos próximos meses, por meio desses R$ 250 milhões, que vieram de parte das nossas últimas rodadas de investimento.”

Fonte: Infomoney