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Estratégia & Marketing Postado em quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021 às 09:34


A pandemia da Covid-19 separou as pessoas dos seus locais de trabalho, dos colegas e das rotinas diárias já conhecidas. Em muitos casos, ela acrescentou estresse, levou a uma baixa no moral, e fragmentou a coesão de equipe; isso tudo resultou na amortização do desempenho no trabalho. É por isso que o incentivo à sensação de inclusão se tornou tão importante nos dias atuais.

No início da Covid-19 em abril deste ano, realizei um estudo para descobrir como os profissionais estavam reagindo à imprevisível disrupção de uma crise global. Entrevistei 187 pessoas de vários setores e de diferentes cargos em Nova York e Nova Jersey – os dois estados mais impactados no início da Covid-19 nos Estados Unidos. Ao estudar 253 narrativas, identifiquei algumas tendências definitivas em liderança comportamental que deram aos funcionários a sensação de estabilidade, empoderamento e inclusão, apesar da crise. Embora essa pesquisa tenha sido realizada durante os estágios agudos iniciais da pandemia, as recomendações a seguir são extremamente relevantes para o nosso estado de crise em curso e em transformação.


1. Demonstre reconhecimento


Os comportamentos mais citados (por 44% dos participantes) foram o reconhecimento, o elogio ou senão, elogiar o trabalho, a dedicação, o esforço e as contribuições dos outros. Alguns participantes mencionaram os benefícios de pequenas atitudes de afirmação por parte de seus superiores, como agradecer por um trabalho bem-feito ou enviar um e-mail em reconhecimento aos seus esforços. Outros descreveram atitudes mais visíveis dos líderes – como falar sobre as conquistas de um funcionário durante reuniões de equipe, mencionar seu trabalho em conversas nas quais os gestores estavam presentes, e dar oportunidades para um trabalho mais próximo à liderança sênior. Uma participante disse que, mesmo que seu supervisor soubesse que ela não tinha condições de se concentrar nos seus projetos mais importantes por conta da pandemia, ainda assim ele pediu que ela compartilhasse, na reunião de equipe, o trabalho que ela estava desenvolvendo à época, para que seus colegas soubessem e entendessem sua forma de contribuição. Esse tipo de comportamento assertivo fez com que os participantes se sentissem orgulhosos e valorizados, durante um tempo onde o contato com os colegas estava limitado, e o medo e a incerteza acerca da segurança no trabalho estavam em alta.


2. Ofereça apoio individualizado

Quando os líderes mostraram entender as necessidades, preferências e situações dos funcionários no que se refere a planos de trabalho, os funcionários sentiram que recebiam o apoio individualizado de que precisavam para ajudá-los a atingir as metas de trabalho. Essa prática (mencionada por 21% dos participantes) foi particularmente relevante no começo da pandemia e se mantém verdadeira à medida que a crise persiste. As pessoas têm diferentes situações familiares, planos de vida e circunstâncias socioeconômicas, além de diferentes níveis de familiaridade com a tecnologia do trabalho remoto e as melhores práticas.

Alguns participantes relembraram que os líderes, comumente, verificavam como eles e a família estavam, mostrando estar cientes dos desafios específicos e sinalizando sua disponibilidade. Alguns relataram que chefes e gestores se reuniam com eles de forma individual para norteá-los, e redistribuir tarefas de trabalho entre os membros da equipe para acomodar as necessidades diferentes e em constante modificação. Um participante da pesquisa, que teve dificuldades na transição para o trabalho remoto enquanto os filhos assistiam às aulas a partir de casa, disse que seu supervisor informou que faria o melhor possível para ajudá-lo no que fosse preciso, inclusive transferindo o seu trabalho para alguém que desse conta do recado. Essas atitudes de fato ajudaram as pessoas a se sentirem menos estressadas, a terem um sentimento positivo em relação ao líder e sua equipe, e gerou um clima de confiança e compreensão que os motivou a se dedicarem mais integralmente ao trabalho.


3. Envolva os funcionários nas tomadas de decisão

Em tempos de grandes incertezas e estresse, vários participantes (15%) perceberam que valorizavam os líderes que procuravam se inteirar e agir de acordo com suas recomendações. Esses participantes disseram que a sua experiência no trabalho melhorava quando os líderes os convidavam a levantar questionamentos prontamente, faziam reuniões com base no “qual é a sua opinião”, os incluíam nas discussões sobre o direcionamento do grupo e organizavam fóruns abertos, com frequência, para que eles fizessem perguntas e compartilhassem opiniões. Eles afirmaram sentirem-se dignos de confiança, necessários e tratados como pertencentes à sua organização. Uma participante mencionou que seu supervisor lhe pediu para elaborar um processo de avaliação para ajudar na tomada de decisões, o que sinalizou que ela tinha capacidade, era confiável e parte integrante da equipe.


4. Atribua novas responsabilidades aos funcionários

Isso pode parecer contraditório, dado que a capacidade mental das pessoas é, em geral, restrita em tempos de crise e rupturas; no entanto, 13% dos participantes mencionaram sentirem-se empoderados ao receberem novas responsabilidades, mesmo enquanto as empresas tentavam lidar com os desafios da pandemia. Isso envolvia assumir responsabilidades em gestão, quando os supervisores estavam sobrecarregados de trabalhos extras para liderar novas iniciativas, e para orientar colegas de trabalho por conta de sua experiência já existente, ou da experiência em trabalho remoto. Essas novas responsabilidades geraram autoconfiança nos funcionários, bem como deram a eles a oportunidade de conhecer melhor os outros colegas, fazendo-os sentirem-se importantes para o sucesso do grupo.Há algumas perguntas que os líderes podem se fazer nesse processo: Você tende a ser mais inclusivo com algumas pessoas do que com outras? Há pessoas que, inadvertidamente, você está deixando de fora? Em outras palavras, você tende a atribuir novas tarefas a pessoas que você conhece em vez de àquelas que mais atendem aos critérios de uma determinada tarefa ou projeto?


5. Invista em tempo e espaço para o entrosamento da equipe

Os participantes (10%) relataram benefícios importantes quando seus líderes criaram oportunidades específicas para que eles se conectassem e se entrosassem com seus colegas de trabalho. Exemplo disso inclui coffee breaks virtuais, happy hours, almoços, tempo para compartilhar histórias e até jogos via Zoom. Um participante falou-me sobre um encontro de “véspera de feriado” onde as pessoas traziam bebidas para o encontro de equipe virtual e jogavam jogos como o “Duas verdades e uma mentira” e trivia, somente para relaxar. Essas práticas ajudaram as pessoas a se conhecerem melhor num contexto informal, ajudou a aliviar o estresse e as motivou a ter melhor desempenho no trabalho. Outro participante disse “Se você sente que faz parte do grupo e não é um colaborador individual, seus colegas o consideram alguém responsável, o que, na minha opinião, tem mais força do que se o chefe assim fizesse, (e) que não é só o dinheiro que importa.”

Embora a pandemia tenha nos jogado de cabeça a desafios imprevistos, ela também deu aos líderes a oportunidade de refletir sobre a maneira como demonstram um comportamento inclusivo e de suporte para as equipes e empresas. Algumas dessas recomendações podem soar mais naturais para você do que para outras. No entanto, à medida que continuamos a tentar compreender as repercussões em andamento da pandemia, a melhor abordagem de liderança é dar ênfase àquelas onde você se sente forte, e investir tempo para focar e praticar nas que parecem ser mais difíceis. Procure novas maneiras de aumentar seu repertório em comportamento inclusivo, incorporando novas práticas. Ter de navegar pelos desastres imprevisíveis e as catástrofes de uma pandemia é um teste de liderança. Entretanto, isso pode também ajudar a ampliar a sua zona de conforto e, consequentemente, sua habilidade para conduzir em meio a crises.

Fonte: Harvard Business Review
Economia & Atualidade Postado em terça-feira, 09 de fevereiro de 2021 às 13:40
Com a pandemia avançando e as contas públicas estranguladas, o retorno do auxílio divide opiniões; entenda a discussão e as possíveis soluções.

O ano de 2021 não começou bem. O número de contaminados pela Covid-19 voltou a subir. A média móvel de mortes voltou a superar mil por dia. Essa realidade, somada à falta de assertividade do governo federal na compra das vacinas, criou um cenário de instabilidade. As restrições impostas em algumas das principais cidades, como São Paulo, Manaus e Belo Horizonte, afetam a economia.

A Tendências Consultoria projeta que o PIB terá crescimento de 0,3% no primeiro trimestre e próximo de zero no segundo. Ou seja, economia parada. Resultado: milhões de brasileiros desempregados e sem renda. Segundo dados da FGV Social, a proporção de brasileiros vivendo na extrema pobreza atingiu o recorde em janeiro: 12,8% vivem com menos de R$ 8,20 ao dia. Em 2019, eram 11%.

Nessa situação, não são poucos os que defendem a volta do auxílio emergencial. No ano passado, as nove parcelas, seis de R$ 600 e quatro de R$ 300, beneficiaram 120 milhões de pessoas. Só para se ter uma ideia da importância do programa, o número de brasileiros pobres atingiu a mínima de 4,5% em agosto graças à ajuda do governo.

O governo federal relutou durante algum tempo na reedição do benefício. Em diversas oportunidades, o ministro da Economia, Paulo Guedes, se mostrou contra o retorno do auxílio. O receio é o desarranjo no total das contas públicas, que fecharam o ano passado com déficit de R$ 743 bilhões e dívida chegando a quase 90% do PIB. Recentemente, porém, ele tem se mostrado mais aberto a ideia, assim como outros setores do governo federal e do Congresso, desde que haja compensação na redução de despesas.

Uma das propostas que o governo estuda, segundo a Folha de S. Paulo, é uma versão mais enxuta e direcionada, chamada de Bônus de Inclusão Produtiva (BIP). O novo programa distribuiria três parcelas de R$ 200 para cerca de 30 milhões de trabalhadores informais, metade do número de beneficiários do auxílio no ano passado. Teriam acesso ao benefício trabalhadores informais que não estão inscritos no Bolsa Família e que precisariam participar de cursos de qualificação profissional.

O novo programa custaria R$ 6 bilhões por mês – muito menos que os cerca de R$ 50 bilhões mensais gastos com o programa em 2020. O governo quer condicionar o BIP ao corte de despesas em outras áreas do governo. Uma das ideias é incluir uma cláusula de calamidade pública na PEC do Pacto Federativo, que retira amarras do Orçamento e permite medidas de ajuste fiscal em momentos de crise.

O InfoMoney conversou com três economistas para ouvir se o país precisa mesmo de uma nova versão do auxílio emergencial , e como ele poderia ser criado de forma a causar o menor impacto possível nas contas públicas.

“A situação econômica é frágil, a recuperação depende da vacinação ampla e o mercado de trabalho reflete essas incertezas. Nesse contexto, faz todo sentido que se proponha um novo auxílio temporário”, diz Felipe Salto, diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão do Senado que tem entre seus objetivos mensurar os impactos das políticas públicas na situação fiscal do governo.

O fim do auxílio emergencial já produz efeitos na economia. Em janeiro, a caderneta de poupança fechou o mês com saída de R$ 18,15 bilhões – maior retirada desde 1995. Nem isso manteve as vendas em alta. Segundo a empresa de pesquisas GfK, o volume de vendas de bens duráveis caiu 5% no mês na comparação com janeiro de 2020. O número de emplacamentos de carros caiu 30% na comparação com dezembro, segundo a Fenabrave.

“O agravamento da epidemia e o fim do auxílio emergencial são bons motivos para repensarmos a evolução da atividade econômica ao longo de 2021”, escreveu o economista Alexandre Schwartsman, em artigo publicado no InfoMoney. Segundo Schwartsman, se o número de casos de Covid continuar alto, os governos precisarão retomar medidas de distanciamento social – e o auxílio emergencial seria fundamental nesse contexto. Para ele, há espaço para a criação de uma nova versão do programa, mais enxuta, para atingir quem realmente precisa. O programa do ano passado, segundo ele, alcançou mais pessoas do que o necessário.

O desafio é equacionar essa nova despesa no orçamento. “Hoje não há espaço para a retomada do auxílio”, diz Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos. Segundo ele, o país teria que aumentar o endividamento, uma decisão complicada. “Quanto maior a dívida, maiores os juros lá na frente, o que aumenta o custo de carregar a dívida.”

A saída mais simples é o governo federal utilizar o instrumento de crédito extraordinário. Essa brecha, permitida pela Constituição, retira os gastos com o benefício do cálculo do teto de gastos (regra que impede o crescimento das despesas acima da inflação).

Seria fácil se fosse simples. Na verdade, a dotação de créditos extraordinários não passa de uma manobra – legal, ressalte-se – para evitar o descumprimento da regra do teto. Os impactos reais da despesa, ou seja, no cálculo do resultado primário e na dívida pública, não vão sumir. É aqui que a situação se torna (bem) mais complexa.

Segundo a economista Alessandra Ribeiro, diretora de Macroeconomia da Tendências Consultoria, com ou sem nova rodada de auxílio emergencial, o governo estoura o teto de gastos em 2021 pelo menos R$ 3 bilhões. A discussão, então, está no tamanho do rombo. “A economia está parada e aumentam as pressões para a volta do auxílio, mas a situação fiscal é delicada. Na prática, o cobertor é curto”.

A Tendências criou um cenário em que o governo não recria o auxílio emergencial, mas expande o Bolsa Família, de 14,1 milhões de famílias em 2019, que receberam um benefício médio de R$ 190, para 17,5 milhões de famílias, que passariam a receber em média R$ 300. O custo aos cofres públicos passaria de R$ 35 bilhões para R$ 67 bilhões. E o rombo do teto aumentaria em dez vezes em relação à projeção inicial, sem contar os impactos na dívida e déficit primário.


O que fazer para compensar o aumento de gastos?

Nos últimos anos, o aumento das despesas obrigatórias do governo era compensado pela redução do chamado gasto discricionário, que, ao contrário de salários e aposentadorias, pode ser cortado. Fazem parte dessa rubrica investimentos e gastos para tocar a máquina pública. Costuma ser a saída mais fácil. Mas, nos últimos anos, os governos abusaram tanto dessa medida que estamos perto do limite.

A Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2021 prevê R$ 83,9 bilhões nesse tipo de gastos, sem contar emendas parlamentares. Isso corresponde a 1,3% do PIB e representa o menor número da série desde 2008. “A margem para contingenciamento é muito baixa e cortes adicionais aumentam o risco de ‘apagão’ do setor público”.

Felipe Salto diz que uma medida efetiva no controle da dívida é o corte das renúncias tributárias – as famosas “ajudinhas” do setor público para empresas privadas. Hoje, elas somam 4% do PIB, um montante considerável. “Seria uma medida muito positiva”.


E as reformas?

Mexer nos gastos obrigatórios deveria ser prioridade e é o tema da chamada PEC Emergencial, que cria “gatilhos” que permitem cortes temporários de custos fixos, como salários de servidores. Esses gatilhos poderiam ser acionados sempre que as despesas crescessem demais.

Não se trata de um tema fácil. Se os subsídios setoriais sofrem pressão de lobistas do setor privado, os gastos obrigatórios, que envolvem em grande parte salários, aposentadorias e pensões, também são alvo de corporativismo. O governo tenta e o Congresso discute a aprovação da PEC Emergencial. Uma primeira versão, mais parruda, foi enviada. Atualmente o Congresso discute uma versão mais enxuta.

Segundo cálculos da Tendências, a aprovação da versão original reduziria o estouro do teto de R$ 67 bilhões para R$ 17 bilhões. Já a versão desidratada teria um impacto menor: estouro de R$ 34 bilhões em 2021.

Compensar o aumento de despesas sociais importantes para o momento com reformas para aumentar a eficiência dos gastos públicos é a saída preferida entre 10 de 10 analistas sérios. Dentro desse cenário, o aumento de curto prazo das despesas seria aceito, e talvez até aplaudido pelo mercado, hoje receoso com o desarranjo das contas públicas. “Se o governo criar um auxílio focado em quem realmente precisa e der sinais críveis de que vai encaminhar os projetos para o controle dos gastos públicos, o mercado reagirá bem”, diz Alessandra Ribeiro.


Foco deve ser o longo prazo, diz economista

O economista-chefe da XP diz que o governo pode não ter tempo para aprovar um novo auxílio pontual. Ele acredita que, no segundo semestre, a vacinação estará em curso e a economia já terá reagido. “Já estamos em fevereiro e a formatação e aprovação de um novo auxílio, acompanhada das medidas para controle de gastos públicos, pode levar muito tempo”.

Por isso, mais importante seria o governo trabalhar para melhorar as políticas de distribuição de renda. “O tema mais relevante não é o auxílio durante a Covid, mas como vamos melhorar de forma estrutural a distribuição de renda no país pensando em 20 anos, e não dois meses”, diz Megale. “Para isso, é fundamental reforçar programas de transferência de renda e investimentos. E só é possível fazer isso se houver reformas estruturais que permitam corte de gastos. O país aprovou a reforma da Previdência, falta a Administrativa e a PEC Emergencial.”

Fonte: Infomoney