Varejo & Franquias
Postado em terça-feira, 14 de novembro de 2023 às 09:38
Acompanhe a analise de 10 companhias do setor por meio de indicadores que apontam para a saúde financeira dos negócios.
De C&A a Track&Field: o que os gráficos contam sobre as varejistas de moda?
Com uma concorrência cada vez maior entre os grandes players, as varejistas de moda que operam no Brasil vêm passando por momentos turbulentos. A pandemia, a alta taxa de juros e o comprometimento do poder de compra dos consumidores forçaram as empresas a inovarem, e algumas podem estar ficando pelo caminho.
A questão é que analistas seguem cautelosos com o setor, dada a demanda fragilizada, rentabilidade pressionada e altos níveis de alavancagem, enquanto a dinâmica para o quarto trimestre deste ano ainda é incerta.
O InvestNews analisou 10 companhias do setor por meio de indicadores, como: receita, lucro, Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), preço sobre lucro (P/L), valor de mercado, margem bruta, líquida e operacional, além do retorno das ações nos últimos 12 meses.
Os dados foram fornecidos com exclusividade pela Comdinheiro e podem indicar como anda a saúde financeira de Alpargatas (ALPA4), Lojas Renner (LREN3), C&A (CEAB3), Soma (SOMA3), Grupo SBF (SBFG3), Guararapes (GUAR3), Lojas Marisa (AMAR3), Arezzo (ARZZ3), Track&Field (TFCO4) e Veste (VSTE3). Veja abaixo em gráficos.
Valor de mercado
Avaliada em R$ 11,9 bilhões, é a Lojas Renner quem tem o maior valor de mercado entre todas as companhias levantadas, segundo a Comdinheiro. A companhia tem mais de 600 lojas em operação, considerando todas as frentes de negócio, como Camicado, Youcom, ASHUA Curve & Plus Size e a própria Renner.
A XP (XPBR31) segue comprada na tese da companhia, uma vez que enxerga a ação como descontada.
Receita Líquida
É também a Renner que apresentou a maior receita líquida quando comparada aos seus pares. A varejista registrou em 12 meses R$ 13,3 bilhões, cifra 55% maior que a apurada pela Guararapes (R$ 8,5 bi), que está na 2ª colocação.Ainda assim, o resultado referente ao 2º trimestre veio abaixo das expectativas dos analistas, segundo a XP, uma vez que teve queda de 3% ano contra ano. O cenário macro e efeitos climáticos desafiadores pesaram na balança.
Na avaliação de Daniela Eiger e Gustavo Senday, analistas da XP, apesar de a entrada da Shein no mercado brasileiro ter deteriorado a dinâmica competitiva, isso deve ser enxergado mais como um desafio do que um “xeque-mate” uma vez que a logística e qualidade dos produtos ainda estão abaixo da Renner.
“Esperamos ver uma melhora nos resultados de curto prazo, especialmente no 4º tri, com um clima mais quente e queda nos preços de algodão como alavancas positivas”, apontam em relatório.
Já a Track & Field é a companhia que apresenta a menor receita líquida do levantamento (R$ 620 milhões), o que não a “desqualifica”, uma vez que a marca é considerada forte pelo mercado e com um posicionamento premium, ficando assim mais “isenta” da pressão inflacionária sobre seus consumidores.
Lucro líquido
Com maiores receitas, era esperado que o lucro líquido da Renner se sobressaísse. A varejista registrou R$ 1 bilhão no período apurado, o que vai na contramão do registrado pela Lojas Marisa (AMAR3), que vem passando por dificuldades e tentando se desviar de uma recuperação judicial.
A varejista teve um lucro liquido negativo em R$ 626 milhões, no 2º trimestre, o que afeta, consequentemente, o Ebitda da companhia (a ser conferido no próximo gráfico).
Recentemente, a empresa anunciou não estar medindo esforços para acelerar a oferta de produtos e serviços de terceiros por meio de seus canais de vendas. Além de roupas, a empresa passou a oferecer consórcio e seguro de carro para clientes.
Último fato relevante divulgado pela companhia aponta que a empresa levantou capital por meio de empréstimo com o BTG Pactual no montante de R$ 65 milhões, além de poder contar com direitos creditórios referentes a processo judicial referente à incidência de ICMS na base de cálculo de PIS e COFINS. A empresa também diz ter concluído negociações com seus fornecedores e proprietários de imóveis.
Ebitda
Depois da Renner, é a C&A quem registra o 2º maior Ebitda entre os pares. Com R$ 1,06 bilhão registrados em 12 meses encerrados no 2º trimestre, a companhia é vista ainda com cautela dado o curto prazo ser desafiador, na avaliação da XP. A dobradinha demanda fragilizada e rentabilidade pressionada indicam cautela, na visão dos analistas, que também apontam que a companhia possui alta alavancagem.
“Como a C&A atende primordialmente classes de renda mais baixa, ela está mais exposta à deterioração macro devido ao impacto em confiança do consumidor e, consequentemente, na sua demanda e rentabilidade. Como resultado, a companhia tende a apresentar um desempenho inferior em tempos difíceis vs. outros nomes em nossa cobertura”, aponta trecho do relatório.
Margem bruta
É a Vest S.A Estilo (VSTE3) quem tem a maior margem bruta do levantamento, o que indica a maior porcentagem de cada R$ 1 de venda que restou após o pagamento do custo das mercadorias. Esse indicador pode ser calculado como sendo o quociente entre o resultado bruto e a receita líquida de vendas da empresa.
A Vest tem sob tutela marcas de luxo, como, Le Lis Blanc, Dudalina, Bo.Bô, Rosa Chá, John John, entre outras. No resultado do 2º tri deste ano, a varejista de moda saiu de um prejuízo ao registrar lucro de R$ 6,5 milhões. Em 12 meses encerrados neste período, a companhia apresentava lucro líquido de R$ 169 milhões, segundo a Comdinheiro.
Margem líquida
Já a maior porcentagem de lucro líquido obtido pela empresa em relação à receita total, também chamada de margem líquida, foi dominada pela Track&Field, segundo o estudo.
Margem operacional
A companhia também lidera em margem operacional, o que aponta que a empresa vem sendo eficiente em suas operações. Na prática, o lucro da operação da Track&Field está em mais de 22% das suas receitas líquidas, o que é acima dos pares.
Preço sobre lucro (P/L)
Até por isso, a companhia se apresenta como sendo “cara” ou negociada a um preço justo, o que não abre brechas para maiores ganhos no curto prazo. O preço sobre lucro (PL) da Track&Field estava em 112 em outubro, o que aponta que ela está sendo negociada em bolsa acima dos pares. Uma pontuação menor que 100 significa que o valor cobrado por ação está descontado, e maior do que isso, caro.
Esse indicador é formado pela relação entre o preço atual de uma ação dividida pelo lucro por ação desse ativo.
“Apesar de gostarmos do posicionamento de marca forte e premium da companhia, especialmente dentro do atual cenário macro, nós acreditamos que a empresa está precificada de forma justa. Preferimos exposição a outras varejistas de alta-renda com perspectivas de crescimento e valuation mais assimétrico”, avalia a XP.
Já a Guararapes é quem está mais descontada em bolsa avaliando os pares.
Desempenho das ações
Neste quebrar de ovos, é a C&A quem está levando a melhor – pelo menos quanto a valorização das ações – nos últimos 12 meses encerrados em outubro. O retorno no período é de 71,9%.
A expressiva valorização da C&A vem na esteira dos resultados acima das estimativas no 2º trimestre, tanto no Ebitda, quanto na margem bruta em vestuário, segundo a XP. Somado a isso, foi citado que menores despesas com vendas (principalmente de marketing), menor nível de investimentos, geração de caixa positiva (R$ 205 milhões), níveis de estoques adequados e coleção outono/inverno bem recebida foram impulsionadores.
Porém, a empresa destoa do retorno médio do segmento, uma vez que (com excessão da Track&Field), todas as demais varejistas listadas seguem no campo negativo. A Alpargatas (ALPA3) recua 61,3% em 12 meses, e segundo a XP, a tacada na expansão internacional passa por dificuldades, o que tem impactado na entrega de resultados consistentes.
Relatório do City aponta que a dona da Havaianas deve reportar um 3º trimestre ainda difícil, com queda considerável em seu volume de vendas no Brasil e no exterior, embora com alguma recuperação na margem. Também é esperado que a Alpargatas reporte prejuízo de R$ 34 milhões, o que ainda assim é um resultado melhor do que o 2º trimestre, quando a empresa registrou prejuízo de R$ 199,6 milhões. Por isso que as ações ALPA3 seguem tão penalizadas.
De olho no varejo de moda de forma geral, nem toda notícia é negativa. Para o 4º trimestre são esperados ventos positivos que podem ajudar nos resultados das varejistas, desde o clima mais quente, ter mais dias úteis, alívio de custos, implementação da terceira fase do programa do governo “Desenrola”, além de queda da inflação e da taxa de juros. Agora é “esperar” buscando assimetrias nos valuations.
Fonte: Invest News